quinta-feira, 22 de agosto de 2013

COMO NAVIO FANTASMA


  Estou roído pelo nada que é tudo
Vivendo das memórias que se afastam
Como navio fantasma que parte
Sem ser visto, mas, que se sabe a navegar...

Pelo barulho do invisível casco ferindo o dorso.
Só os olhos viajam pela terra de ninguém.
Pelo cansaço dos arbustos esperando alguém
Que não vem, encostar o corpo e os lábios
Ao reverso da luz, para melhor iluminar a alma
E partir, deixando um rastro de perfume abrasado
Que se vai diluindo pelas roseiras plantadas na aurora,
Esperando a sagração da primavera no ventre
Da mulher madura, que há muito perdeu
A esperança, de ser casulo de aquoso hálito,
Esperando que, o ouro derramado de erectas estrelas
Lhe faça reluzir o sexo para garimpeiro audaz,
Que peneirando o brilho, descubra a pepita, a única,
Com que encherá de riqueza ávido útero,
Florescendo como um fruto na alegria do sangue,
Que preso circulará numa redoma de promessas.
Promessas que avivarão meu olhar no poente a definhar
E, que me trarão à memoria, o doce carinho
Com que amei a luz de todos os ventres possuídos
E, que me fizeram o “poeta” que cantando o amor,
Esqueça tudo; em que alguma vez foi desamor.

Joaquim MONTEIRO
2013-08-11
(© todos os direitos reservados)
Pintura de: Edward Pustovoitov

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