terça-feira, 8 de setembro de 2015


Desenha com a ponta dos teus dedos 
as fronteiras exactas do meu rosto 
as rugas, os sinais, a cicatriz que ficou da infância 
o lento sulco das lâminas onde no peito 
se enterra o mistério do amor ...
e diz-me o que de mim amaste 
noutros corpos, noutras camas, noutra pele 
prometo que não choro 
mas repete as palavras um dia minhas 
que sem querer misturaste nas tuas 
e levaste com as chaves de casa e os documentos do carro- 
e largaste sobre a mesa com o copo de gin a meio 
na primeira madrugada em que me esqueceste.


(Alice Vieira)
Foto de: Monia Merlo

VIDA TÃO ESTRANHA


São de veludo as palavras
Daquele que finge que ama
Ao desengano levo a vida...
A sorte a mim já não me chama.


Vida tão só
Vida tão estranha
Meu coração tão maltratado
Já nem chorar
Me traz consolo
Resta-me só um triste fado.


A gente vive na mentira
Já não dá conta do que sente
Antes sozinha toda a vida
Que ter um coração que mente.


(Rodrigo Leão)
Arte de: Valery Vetshteyn

Sempre que eu puder, serás uma lua na parede, acima de um qualquer nosso, banco de jardim. E para que não sejam apenas as folhas a nossa companhia, tratarei de rodear.te de estrelas.
Ao lado, bem junto, estarei eu.
Sempre que eu puder… Serás um nascer de um sorriso, e eu o desenho de um abraço.


(Luís Santos)

CORREMOS DENTRO DOS CORPOS


Como o sangue, corremos dentro dos corpos no momento em que abismos os puxam e devoram. Atravessamos cada ramo das árvores interiores que crescem do peito e se estendem pelos braços, pelas pernas, pelos olhares. As raízes agarram-se ao coração e nós cobrimos cada dedo fino dessas raízes que se fecham e apertam e esmagam essa pedra de fogo. 
Como sangue, somos lágrimas. Como sangue, existimos dentro dos gestos. As palavras são, tantas vezes, feitas ...daquilo que significamos. E somos o vento, os caminhos do vento sobre os rostos. O vento dentro da escuridão como o único objecto que pode ser tocado. Debaixo da pele, envolvemos as memórias, as ideias, a esperança e o desencanto.


(José Luís Peixoto)- in 'Antídoto'

Amo-te como quem ama a rosa
Me aproximo
Sinto teu perfume
Rego-te
Te admiro...
Mas não te tomo para mim
Pois ao tomar-te para mim
Eu veria tua beleza dissipando-se diante de mim
Faço-me, portanto, beija-flor
E beijo-te apenas
Nunca te carrego comigo

- Levo-te apenas dentro de mim...


( Augusto Branco)

segunda-feira, 7 de setembro de 2015


Quero-te não por quem és, mas por quem sou quando estou contigo. Ninguém merece as tuas lágrimas, e quem as merecer não te fará chorar. Só porque alguém não te ama como tu queres, não significa que não te ame com toda a sua Alma. Um único minuto de reconciliação vale mais do que toda uma vida de amizade.Um verdadeiro amigo é aquele que pega na tua mão e te toca o coração. A pior forma de se sentir a falta de uma pessoa é estar sentada ao seu lado e saber que nunca a vais pode...r ter. Nunca deixes de sorrir, nem sequer quando estás triste porque nunca sabes quem se poderá apaixonar pelo teu sorriso. Podes ser simplesmente uma pessoa para o mundo, mas para alguém o mundo és tu. Não passes o tempo com alguém que não esteja disposto a passá-lo contigo. Quem sabe se Deus quer que conheças muita gente errada antes de conheceres a pessoa certa, para que quando (finalmente) a conheceres, saberes estar agradecida. Não chores porque acabou, sorri porque aconteceu. Haverá sempre quem te desiluda, assim o que tens de fazer é seguir confiando e ser mais cuidadosa em quem confias duas vezes. Não te esforces tanto, as melhores coisas acontecem quando menos as esperas.


(G.G.M) 




(...)
Quando peço amor, peço sempre em inconformidade.
Há quem se contente com amar em conformidade, conforme as luas, sabes?, “hoje amo-te muito, amanhã um bocadinho menos, “hoje quero ficar contigo para sempre, amanhã só temos duas horas para falar, está bem?”, “hoje já estamos a sonhar, amanhã voltamos à realidade, combinado? “.
Quando peço amor, peço sempre em inconformidade.
Há quem se conforme no amor, naqueles amores do tem de ser, sabes?, nos amores que se amam debaix...o de olhares vizinhos, nos amores feitos para lavar as vistas, nos amores que ficam bem mas não, nunca, foram feitos para assentar como uma luva, naqueles amores que existem para a felicidade dos outros mas não, nunca, para a única felicidade que importa: a TUA. 
Egoísmo? Chama-lhe o quiseres, mas não retiro, e até acrescento, uma vírgula ao que acabei de escrever: naqueles amores que existem para a felicidade dos outros mas não, nunca, jamais, para única felicidade que importa: a TUA.
E, então, há quem viva conformado com a felicidade a tempo parcial, a felicidade amiga do alheio, há quem assuma viver plenamente feliz depois de entregar, de bandeja em riste, a felicidade nos braços do medo.
Quando peço amor, peço sempre em inconformidade,
porque só no inconformismo encontras a liberdade. 
O amor gosta de liberdade. 
O amor não tem quaisquer crenças sobre ti: 
não te julga, 
não te diz o que deves fazer, 
atuar, 
pensar. 
O amor gosta de estar onde se sente bem-vindo. 
O amor gosta de velocidade: 
mal sintas os primeiros indícios de amar alguém, 
mergulha de cabeça, aproveita a excitação, a energia do momento.
(...) Espera, talvez reste uma última tentativa para te fazer agir 
em inconformidade:
quero amar-te hoje para poder amar-te ainda mais amanhã.



(Rui Miguel Mendonça)

BASTARIA UM ABRAÇO E... VOLTARIA A VOAR



Procuro encontrar no meu íntimo a harmonia da vida, concentrar-me nas energias vibratórias, recordar que eu sou o poder no meu mundo. Centro-me na Luz que me ilumina e reforço a consciência de que sou uma partícula do Universo. Não vacilo nas minhas asas da liberdade e sucedem-se os voos com essência numa busca constante, por vezes dissimulada, por vezes imprudente, por vezes irresistivelmente fascinante quando, isolados, ficamos mais juntos e mais livres. Nas ausências, as minha asas perdem o vigor e o vazio escorre-me pelas mãos que deixo cair ao longo de um corpo que perde o brilho como se o Sol nunca o banhasse. Fico ali, prostrada, emocionada e trémula, sem riso, sem emoção, desajeitada e sem ritmo. Bastaria um abraço para que as minhas asas voltassem a bater em movimentos sinuosos e pousassem (docemente) na curva do teu braço.


(Maria Elvira)