segunda-feira, 27 de outubro de 2014


Cansei os braços
a pendurar estrelas no céu.
Destino dos fados lassos....
Tudo termina em cansaços
braços
e estrelas
e eu.

(António Gedeão)

Atravesso tempestades dentro de mim. E ninguém, ninguém desconfia."

(Bruna Moraes)

Foto de: Anna Munch

A FORÇA DA POESIA


Na leveza que se eleva 
e flutua 
Na delicada incerteza ...
da vida
Há um sopro que se liberta 
assim
Numa vertigem que se veste 
de temor
Num fulgor que se abeira do fim

Há um alento que aponta 
o sentido
Um caminho que espera 
por alguém
Uma estrela que brilha 
na frente
E no tempo de todo sempre 
Se ouve a voz de ninguém

É a voz que clama e porfia
No tom mais próximo do fim
Se dissolve e se envolve de poesia
Que se alastra e se aproxima de mim

Que êxtase é este que me envolve 
Dum perfume alado se dissolve

(paxiano)

PÁGINA DO TEU POEMA


Um dia serei página do teu poema
Quando o sol despontar no monte
O teu corpo se erguer no espaço...
Mil gotas desabarem da fonte
Deslizando no colo do teu regaço

Um dia serei página do teu poema 
Quando a tua luz se libertar
Pela fresta do pensamento
Não vá ele frágil se cansar
Nas asas e na força do vento

Depois libertarás perfume alado
Em união com versos tecidos
E o aroma vibrante ficará retido
No limbo frágil dos sentidos

Nunca os poemas ficaram perdidos
Quando brilham nos meus sentidos

(paxiano)

INSANIDADES


Há em ti uma nuvem
que rasga o céu em tempestade,
e o tempo que sacode...
o ventre de um poema vazio.

Há em ti uma parte
que se foi sem sobras,
no silêncio e solidão
do escuro das cores.

Há em ti o delírio
e a demência que flutua
numa sinfonia de liberdade
onde se devaneiam os impossíveis.

Há em ti...
... um pouco de louco
e a loucura que procurei
loucamente...

(António Carlos Santos)- in da Geometria do Amor


Amei-te como nunca me amei. Que amor pode ser mais forte que isso? 

(João Morgado)

Arte de: Tomasz Rut

O AMOR É O AMOR



O amor é o amor- e depois?!

Vamos ficar os dois...

a imaginar, a imaginar?…

O meu peito contra o teu peito,

cortando o mar, cortando o ar.

Num leito

há todo o espaço para amar!

Na nossa carne estamos

sem destino, sem medo, sem pudor,

e trocamos- somos um? somos dois?-

espírito e calor!

O amor é o amor- e depois?!

(Alexandre O’Neill)

Se eu pudesse dar-te aquilo que não tenho
e que fora de mim jamais se encontra
Se eu pudesse dar-te aquilo com que sonhas
e o que só por mim poderá ter sonhado
...
Se eu pudesse dar-te o sopro que me foge
e que fora de mim jamais se encontra
Se eu pudesse dar-te aquilo que descubro
e descobrir-te o que de mim se esconde

Então serias aquele que existe
e o que só por mim poderá ter sonhado.

(Ana Hatherly)- in A IDADE DA ESCRITA (Ed. Tema, 1998)



A emoção e o sentimento conduzem ao prazer. A razão e a vontade propiciam a felicidade.


(Desconheço o autor)

SOPRO



Sopro-te um beijo
sempre que respiro
as marcas da tua presença...
na linha dos dias
meus

Dou-te o mar, o céu, as estrelas,
nas palavras que te invento
e te afagam docemente
em sentires que fazes
teus

(João Carlos Esteves) - em “Absolvição” (Temas Originais, 2011)



Eu não sabia, Senhor, que o mundo era tão vasto e doloroso. E que, desejando a vastidão do mundo, meu coração conheceria também a vastidão da dor. 
Por que, Senhor meu, permitiste que eu tentasse fugir da minha pequenez? 
Por que me deste todos esses sonhos muito maiores do que eu?"

(Caio Fernando Abreu)



Se dois lábios não podem se beijar, dois olhos se beijam numa troca de olhar."

( Desconheço o autor)


Não me diga a que vens 
Deixa-me adivinhar pelo pó nos teus cabelos
que vento te mandou. 

É longe a tua casa?...
Dou-te a minha: 

leio nos teus olhos o cansaço do dia que te venceu; e, no teu rosto, as sombras contam-me o resto da viagem.

Anda,

vem repousar os martírios da estrada
nas curvas do meu corpo — é um
destino sem dor e sem memória. Tens

sede? Sobra da tarde apenas uma
fatia de laranja — morde-a na minha
boca sem pedires. Não, não me digas
quem és nem ao que vens. 

Decido eu.

(Maria do Rosário Pedreira)


Amei certo as pessoas erradas.
Amei errado as pessoas certas.
Nunca fui bom em amar e ser amado.
Amar me parece coisa de profissional e não
para amadores como eu."

(Sérgio Vaz)


Eu te abraço para abraçar o que me falta.
 
(Rubem Alves)
 
Arte de: Marcelo Martinez  Casas



Fácil é abraçar, apertar as mãos, beijar de olhos fechados.
Difícil é sentir a energia que é transmitida.
Aquela que toma conta do corpo como uma corrente elétrica quando tocamos a pessoa certa.

(Carlos Drummond de Andrade)


Ouve:
Como tudo é tranquilo e dorme liso;
Claras as paredes, o chão brilha,
E pintados no vidro da janela
O céu, um campo verde, duas árvores....

Fecha os olhos e dorme no mais fundo
De tudo quanto nunca floresceu.

Não toques em nada, não olhes, não te lembres.
Qualquer passo
Faz estalar as mobílias aquecidas
Por tantos dias de sol inúteis e compridos.

Não te lembres, nem esperes.
Não estás no interior dum fruto:
Aqui o tempo e o sol nada amadurecem.

(
Sophia de Mello Breyner)
 
De bruços
pinto a tua boca
e ajoelhado a beijo
como se fosses
.....só pensamento...

a devorar o que há
em mim.......
o que é,
inconfessavelmente, teu .......
fechado no cárcere
das palavras
dum poema !
(Carlos lacerda..)
 
Arte de: Irjan  Moussin

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

ESQUECE-TE DE MIM, AMOR


Esquece-te de mim, Amor

das delícias que vivemos
...

na penumbra daquela casa.

Esquece-te.

Faz por esquecer

o momento em que chegámos,

assim como eu esqueço

que partiste,

mal chegámos,

para te esqueceres de mim,

esquecido já

de alguma vez termos chegado.

 (António Mega Ferreira) - in Os Princípios do Fim- Poemas (1972 – 1992)
 
Pintura de: Carbonell
 



Todas as manhãs ela deixa os sonhos na cama, acorda e põe sua roupa de viver.

(Clarice Lispector)

BRINCADEIRA


Brinca comigo à procura...
de uma estrela noutro céu
Brinca e lava a noite escura
com os sonhos que Deus te deu

Começa devagarinho
– por favor, não tenhas medo,
que o meu coração fez ninho
dentro do teu em segredo

Acorda os anjos que dormem
com a luz do teu sorriso
Faz com que não se conformem
e saiam do paraíso

Deixa-os entrar de repente
no teu quarto, a esta hora
em que a verdade mais quente
é o sono que te devora

Brinca comigo às escuras,
ensina-me o que não sei
Onde estás? Porque procuras
o coração que te dei?

(Fernando Pinto do Amaral)

Outono me faz lembrar que
mudo as minhas folhas, mas nunca
as minhas raízes....

Que passo por estações,
mas deixo as minhas sementes.
Que o vento que me balança
também espalha o meu perfume.

(Joelma Rocha)

A FORÇA DA POESIA


Na leveza que se eleva
e flutua
Na delicada incerteza ...

da vida
Há um sopro que se liberta
assim
Numa vertigem que se veste
de temor
Num fulgor que se abeira do fim
Há um alento que aponta
o sentido
Um caminho que espera
por alguém
Uma estrela que brilha
na frente
E no tempo de todo sempre
Se ouve a voz de ninguém
É a voz que clama e porfia
No tom mais próximo do fim
Se dissolve e se envolve de poesia
Que se alastra e se aproxima de mim
Que êxtase é este que me envolve
Dum perfume alado se dissolve
(paxiano)

O LÁPIS E SUAS APARAS...


Olho as aparas amontoadas no canto da mesa; escuto o lápis e o pulsar nos dedos com que o seguro e tenho medo de o perder, de perder mais este companheiro que tanto de mim sentiu e percebeu, que tanto da vida esculpiu na pele branca e frágil esventrada daquele tronco robusto que vi partir num sonho.
Ah! Este lápis que não só escreve as letras, desenha os símbolos da ete...
rnidade, esculpindo com arte o ser e o sentir na tristeza e na alegria e os meus olhos são mar quando vejo partir os risos e a chuva, rebentos tão meus e da terra que piso.
Guardo as aparas, fazem parte do sangue e do suor, das lembranças gastas e da saudade quando por elas passou uma tempestade de ideias soltas; quando por elas passou uma guerra e viu partir os soldados, os filhos… e da minha boca em silêncio não sossegaram as lágrimas, a raiva no trilho das armas e das flores, tantas as pequenas flores que em sangue por outro sangue se derramaram. Guardo as aparas, nelas, também tenho a rega da minha serenidade, e recordo o soar melódico das andorinhas e das primaveras, do primeiro e último voo das borboletas.
Guardo o lápis, já no seu último suspiro…sei que voltará quando o Outono levantar as primeiras poeiras, quando caírem as primeiras folhas e quando o vento gritar: Chegou a hora de purificar o impuro, de renovar as árvores, de fortalecer os filhos da terra, de germinar o silêncio, de fazer mover os rios e as águas paradas…chegou a hora da igualdade, de nos sentirmos firmes, presos ao solo enquanto o fortalecemos devagar e sem pressas com o nosso florir e melhor sorriso até que a nudez do Inverno nos torne novamente reais.
Descansa lápis, fizeste, deste caderno, uma das minhas melhores esculturas…continuará a soar o violino enquanto as palavras balançam entre os sons das suas cordas mágicas.

©Maria dos Santos Alves (MSA), 27/08/2014, a publicar in “Violinos ao Luar”

Dormi contigo a noite inteira junto do mar, na ilha.
Selvagem e doce eras entre o prazer e o sono, entre o fogo e a água.
Talvez bem tarde nossos sonos se uniram na altura e no fundo,
em cima como ramos que um mesmo vento move,
em baixo como raízes vermelhas que se tocam....

Talvez teu sono se separou do meu e pelo mar escuro
me procurava como antes, quando nem existias,
quando sem te enxergar naveguei a teu lado
e teus olhos buscavam o que agora - pão, vinho, amor e cólera - te dou,
cheias as mãos, porque tu és a taça que só esperava os dons da minha vida.
Dormi junto contigo a noite inteira,
enquanto a escura terra gira com vivos e com mortos,
de repente desperto e no meio da sombra meu braço rodeava tua cintura.
Nem a noite nem o sonho puderam separar-nos.
Dormi contigo, amor, despertei,
e tua boca saída de teu sono me deu o sabor da terra,
de água-marinha, de algas, de tua íntima vida,
e recebi teu beijo molhado pela aurora
como se me chegasse do mar que nos rodeia.

(Pablo Neruda)


A paixão é um fio de chuva
em vidro de janela.

(Mia Couto)


no fundo dos teus olhos,
eu sou ainda mais vida
no fundo dos meus
tu vês-me, mais eu

(Pedro Sobreda)