quarta-feira, 29 de maio de 2013

O AMOR E A MEMÓRIA



  O amor e a memória conspiram juntos. É por não nos conseguirmos lembrar de quem amamos que temos de estar sempre junto dela. A olhar para ela. Cada vez que a vejo sou apanhado de surpresa. Baque do costume. Já chateia. ...É sempre diferente, mais bonita, mais interessante do que eu pensava.
Porque é que eu não me consigo lembrar da cara dela? Já tentei. Já fiz tudo. Fiquei acordado a tentar aprendê-la de cor. Estudei-a. Sobrancelha por sobrancelha. Dez minutos para cada uma. Tomei apontamentos. Escrevi-a num caderno. Tirei-lhe fotografias. Pendurei-a na parede. Decorei o meu quarto (e os interiores do meu coração) com ela, mas mesmo assim não a consigo ver. No momento em que tiro os olhos dela, desaparece. Os meus olhos prendem-se a ela, mas os olhos dela não param dentro de mim. Isto assusta-me. Ela impressiona-me tanto. Mas não deixa impressão. Deixa um vazio. É isso que o amor faz. Troça de nós. Ou se calhar ela é como um bombardeamento que presencio e esqueço. Como um soldado cheio de medo, escondido na minha trincheira, varro-a da memória. E depois ela volta quando começo a sonhar.

[Miguel Esteves Cardoso], in 'As Minhas Aventuras na República Portuguesa'
TU ÉS EM MIM PROFUNDA PRIMAVERA


O sabor da tua boca e a cor da tua pele,
pele, boca, fruta minha destes dias velozes,
diz-me, sempre estiveram contigo
por anos e viagens e por luas e sóis
e terra e pranto e chuva e alegria,
ou só agora, só agora
brotam das tuas raízes
como a água que à terra seca traz
germinações de mim desconhecidas
ou aos lábios do cântaro esquecido
na água chega o sabor da terra?

Não sei, não mo digas, tu não sabes.
Ninguém sabe estas coisas.
Mas, aproximando os meus sentidos todos
da luz da tua pele, desapareces,
fundes-te como o ácido
aroma dum fruto
e o calor dum caminho,
o cheiro do milho debulhado,
a madressilva da tarde pura,
os nomes da terra poeirenta,
o infinito perfume da pátria:
magnólia e matagal, sangue e farinha,
galope de cavalos,
a lua poeirenta das aldeias,
o pão recém-nascido:
ai, tudo o que há na tua pele volta à minha boca,
volta ao meu coração, volta ao meu corpo,
e volto a ser contigo a terra que tu és:
tu és em mim profunda primavera:
volto a saber em ti como germino.

(Pablo Neruda), in "Os Versos do Capitão"

segunda-feira, 27 de maio de 2013



"QUE NOS MOMENTOS DE SAUDADES ,
EU TENHA SABOR DE BEIJO...
QUE NAS HORAS DE TRISTEZA ,
EU SEJA COMO O ABRIGO...
NAS TUAS NOITES MAIS QUENTES ,
QUE EU SEJA FEITO O VENTO SEJA
NOTADO PELO SIMPLES TOQUE..."
 
(Pedro Júnior)

Pink - Just Give Me A Reason (Official Video)


MAR, MEU COMPANHEIRO


 Quando se faz vazio, o meu pensamento
E a minha vontade se perde na solidão do silêncio,
É junto de ti, mar, que encontro a serenidade!
...

Vagueia o meu olhar, sobre o teu dorso
E fascinado pelo reflexo do sol nas tuas águas
Sorrio-me no teu ondular!

Leva os meus anseios, nas tuas marés descendentes
E traz-me a paz e a felicidade,
Abraçada nas tuas ondas,
Que se vêm espreguiçar na areia dourada,
Em caricias refrescantes de alva espuma
E que me acalmam pelos cheiros da maresia!

E és tu mar, imensidão de segredos por desvendar,
Que tanto tens a doçura do teu murmurar
E nos delicias nos prazeres em ti,
Como tens a agressividade da tua revolta,
Transformas-te em monstro assustador,
Que tudo destróis e arrastas na tua vontade!

Mas, para mim, mar...
Que te confundo no horizonte com o céu,
Quero-te sereno e companheiro,
Nos meus momentos de solidão.

(José Carlos Moutinho)

domingo, 26 de maio de 2013

PERGUNTAS E RESPOSTAS


— Qual é a coisa mais antiga do mundo?
— Poderia dizer que é Deus que sempre existiu.
— Qual é a coisa mais bela?
— O instante de inspiração.
...
— E Deus quando criou o Universo não o fez no momento de Sua maior inspiração?
— O Universo sempre existiu. O cosmos é Deus.
— Qual das coisas é a maior?
— O amor, que é o maior dos mistérios.
— Das coisas qual é a mais constante?
— O medo. Que pena que eu não possa responder: é a esperança.
— Qual o melhor dos sentimentos?
— O de amar e ao mesmo tempo ser amada, o que parece apenas um lugar-comum mas é uma de minhas verdades.
— Qual é o sentimento mais rápido?
— O sentimento mais rápido, que chega a ser apenas um fulgor, é o instante em que um homem e uma mulher sentem um no outro a promessa de um grande amor.
— Qual é a mais forte das coisas?
— O instinto de ser.
— O que é mais fácil de se fazer?
— Existir, depois que passa o medo.
— Qual a coisa mais difícil de realizar?
— A própria relativa felicidade que vem do conhecimento de si mesmo.

(Clarice Lispector), in Crónicas no 'Jornal do Brasil (1970)'
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SOU A TUA CASA



  Sou a tua casa, a tua rua, a tua segurança, o teu destino. Sou a maçã que comes e a roupa que vestes. Sou o degrau por onde sobes, o copo por onde bebes, o teu riso e o teu choro, o teu frio e a tua lareira. O pedinte que a...judas, o asilo que te quer acolher. Sou o teu pensamento, a tua recordação, a tua vontade. E também o artesão que para ti trabalha, o medo que te perturba e o cão que te guia quando entras pela noite. Sou o sítio onde descansas, a árvore que te dá sombra, o vento que contigo se comove. Sou o teu corpo, o teu espírito, o teu brilho, a tua dúvida. Sou a tua mãe, o teu amante, o marfim dos teus dentes. E sou, na luz do outono, o teu olhar. Sou a tua parteira e a tua lápide. Os teus vinte anos. O coração sepultado em ti. Sou as tuas asas, a tua liberdade, e tudo o que se move no teu interior. Sou a tua ressaca, o teu transtorno, o relógio que mede o tempo que te resta. Sou a tua memória, a memória da tua memória, o teu orgulho, a fecundação das tuas entranhas, a absolvição dos teus pecados. O teu amuleto e a tua humildade. Sou a tua cobardia, a tua coragem, a força com que amas. Sou os teus óculos e a tua leitura. A tua música preferida, a tua cor preferida, o teu poema preferido. Sou o que significas para mim, a ternura que desagua nos teus dedos, o tamanho das tuas pupilas antes e depois de fazer amor. Sou o que sou em ti e o que não podes ser em mim. Sou uma só coisa. E duas coisas diferentes.

(Joaquim Pessoa), in 'Ano Comum'
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sexta-feira, 24 de maio de 2013



"E de súbito desaba o silêncio.
É um silêncio sem ti,
sem álamos,
sem luas.

Só nas minhas mãos
...
oiço a música das tuas."

(Eugénio de Andrade)
EU QUERIA



Eu queria agora
Cobrir-te de beijos
E em teu corpo todo
Semear meus desejos
Eu queria agora
Ao teu lado estar
E muitos vôos
Contigo, alçar
Eu queria agora
Na terra ou no ar
O tempo afora
Simplesmente te amar
 
(Siomara Reis Teixeira)
PROCURA-SE O BEIJO
 

 Lábios passeiam
Sorrisos roçam-se
Emitem sinais de perigo
Num displicente bem querer...
...

Por esses lábios atentos
Vontades voam
Línguas dançam
Corpos brincam
Desejos ficam...

Doces
Suculentos
Indiscretos
Atiçam
Sucos lentos
Repletos de prazer.

Fúria
Desejos
Luxúria
Abraços
Ocupam todos espaços
No meu entardecer...

Momentos régios
Bailam sobre o amor
Sem sacrilégios
Só tem como privilégio
A sina do amanhecer...

Esses lábios
Tão sábios
Emitem promessas
Sem nenhuma pressa
Para acontecer.

Como serão
Esses beijos
Que tanto eu poetei
Sem mesmo
“embeijecer”.

Por onde andará esse afeto
Que no futuro eu coloquei
No verbo ser em um tempo
Que ainda não conjuguei.

Procura-se este beijo perdido
Quem sabe um pouco
“embeijecido”
Na boca que ainda não encontrei...
 
(Desconheço o Autor)
 



desço sobre ti
uma vontade louca
de te ter
de te possuir
num jogo intenso
...
de sedução
amar-te vagarosamente
sem pressas
sem desculpas
fazer de cada beijo
um verdadeiro
repasto dos deuses
e no teu corpo
perder-me para sempre

(jorge morais)

HOJE


Hoje quero teu beijo, teu cheiro, teu gosto.
Beijo molhado.
Cheiro que atrai.
Gosto de quero mais.
Quero teu abraço, teu olhar, tua companhia.
Abraço que protege.
Olhar que compreende.
Companhia que não se vende.
Quero teu silêncio, teu carinho, tua serenidade.
Silêncio que respeita.
Carinho que exalta.
Serenidade que acalma.
Hoje quero te ver, te ter.
Hoje eu quero você!
 
(Ane Soal)
DE LOUCOS MOMENTOS



Olhos fechados
Corações palpitados
Lábios encostados
Beijos quentes e molhados
Noite fria e céu bem estrelado
A lua pendurado a fio
e mãos entrelaçadas
Corpos fervendo
corpos encostados
e o suor escorrendo
Rostos acariciados
peitos acelerados
e a mente a voar
pela imensidão da imaginação e pelo luar
Olhos abertos
Fisgadas no olhar
palavras mudas
coração a entender
poesias a soar
Lindas e belas
a paixão à esquentar
O Amor a nos enlouquecer
Nos levando a amar e amado ser
Isso tudo é que me faz viver!
 
(Edson Sodré Filho)

sexta-feira, 17 de maio de 2013

ORGASMO




 Orgasmo é frémito
...
Arrepio
Tremor
É suor e saliva
Esperma, fluido…
Orgasmo é paixão
Alegria, êxtase
Exaustão…
Orgasmo é entrega
e ardor

O mais breve mas intenso prazer
que, na vida, se pode experimentar…

Orgasmo é AMOR.
 
(Sofia J. Andrade)

pt




A nudez da palavra que te despe.
Que treme, esquiva.
Com os olhos dela te quero ver,
que te não vejo.
Boca na boca, através de que boca
...
posso eu abrir-te e ver-te?
É meu receio que escreve e não o gosto
do sol de ver-te?
Todo o espaço dou ao espelho vivo
e do vazio te escuto.
Silêncio de vertigem, pausa, côncavo
de onde nasces, morres, brilhas, branca?
És palavra ou és corpo unido em nada?
É de mim que nasces ou do mundo solta?
Amorosa confusão, te perco e te acho,
à beira de nasceres tua boca toco
e o beijo é já perder-te.

(António Ramos Rosa)



"Não conto gozar a minha vida; nem em gozá-la penso. Só quero torná-la grande, ainda que para isso tenha de ser o meu corpo e a minha alma a lenha desse fogo. Só quero torná-la de toda a humanidade; ainda que para isso tenha de a perder como minha."

(Fernando Pessoa)





"É próprio da mulher o sorriso que nada promete e permite tudo imaginar."

(Carlos Drummond de Andrade)



Gostava de morar na tua pele
desintegrar-me em ti e reintegrar-me
não este exílio escrito no papel
por não poder ser carne em tua carne.

...
Gostava de fazer o que tu queres
ser alma em tua alma em um só corpo
não o perto e o distante entre dois seres
não este haver sempre um e sempre o outro.

Um corpo noutro corpo e ao fim nenhum
tu és eu e eu sou tu e ambos ninguém
seremos sempre dois sendo só um.

Por isso esta ferida que faz bem
este prazer que dói como outro algum
e este estar-se tão dentro e sempre aquém.

(Manuel Alegre)

segunda-feira, 13 de maio de 2013



"É apenas o começo. Só depois dói,
e se lhe dá nome.
Às vezes chamam-lhe paixão. Que pode
acontecer da maneira mais simples:
umas gotas de chuva no cabelo.
...
Aproximas a mão, os dedos
desatam a arder inesperadamente,
recuas de medo. Aqueles cabelos,
as suas gotas de água são o começo,
apenas o começo.
Antes do fim terás de pegar no fogo
e fazeres do inverno
a mais ardente das estações."

(Eugénio de Andrade)




... Seu sorriso soltou
a brisa se juntou ao mar
como um corpo que traduz
as fragrâncias do amor.

(R. M.)




Que nas perdas eu me encontre. Que no encontro, eu me perca.

(Dan Cezar)





O que me atormenta é que tudo é 'por enquanto', nada é ' sempre'“.

(Clarice Lispector
BODA ESPIRITUAL




  Tu não estas comigo em momentos escassos:
No pensamento meu, amor, tu vives nua
- Toda nua, pudica e bela, nos meus braços.
...

O teu ombro no meu, ávido, se insinua.
Pende a tua cabeça. Eu amacio-a... Afago-a...
Ah, como a minha mão treme... Como ela é tua...

Põe no teu rosto o gozo uma expressão de mágoa.
O teu corpo crispado alucina. De escorço
O vejo estremecer como uma sombra n'água.

Gemes quase a chorar. Suplicas com esforço.
E para amortecer teu ardente desejo
Estendo longamente a mão pelo teu dorso...

Tua boca sem voz implora em um arquejo.
Eu te estreito cada vez mais, e espio absorto
A maravilha astral dessa nudez sem pejo...

E te amo como se ama um passarinho morto.

(Manuel Bandeira)
 


Ama-me por amor do amor somente.
Não digas: “Amo-a pelo seu olhar,
o seu sorriso, o modo de falar
honesto e brando. Amo-a porque se sente

...
minh’alma em comunhão constantemente
com a sua”. Por que pode mudar
isso tudo, em si mesmo, ao perpassar
do tempo, ou para ti unicamente.

Nem me ames pelo pranto que a bondade
de tuas mãos enxuga, pois se em mim
secar, por teu conforto, esta vontade

de chorar, teu amor pode ter fim!
Ama-me por amor do amor, e assim
me hás de querer por toda a eternidade

(Elizabeth Barrett Browning - Tradução Manuel Bandeira)
ÉS CHUVA EM MIM



  És como a chuva
Que escorrega em mim, suave,
Acariciando a minha pele
...
No ardor da paixão

Vives em meus sonhos
Como água do meu ser,
Sentindo-te em minhas certezas

E cada gota que cai
É como se teus gestos fossem,
Inundando-me de ti…

(Fátima Porto)
Texto registado e protegido pelo IGAC
V

ECLIPSE



 A minha boca é o sol, a tua boca é a lua, no eclipse do amor, a minha boca beija a tua.

(Desconheço a autor)



segunda-feira, 6 de maio de 2013

POEMA V




 Para que me oiças
minhas palavras
...
adelgaçam-se às vezes
como a pegada das gaivotas nas praias.

Colar, guiso embriagado
para as tuas mãos suaves como as uvas.

Minhas palavras, vejo-as tão distantes!
Mais que minhas, são tuas.
Pela minha dor vão trepando como heras.

Trepam assim pelas paredes húmidas.
És a culpada deste jogo sangrento.

Estão a fugir do meu sombrio abrigo.
Tu ocupas tudo, ocupas tudo.

Antes de ti povoavam a solidão que ocupas,
e estão habituadas mais que tu a esta tristeza.

Quero agora que digam o que anseio dizer-te
para que as oiças como anseio que oiças.

O Vento da angústia costuma ainda arrastá-las.
Furações de sonhos ainda às vezes as tombam.
Escutas outras vozes na minha voz dorida.
Pranto de velhas bocas, sangue de velhas súplicas.
Ama-me, companheira. Não me abandones. Segue-me.
Segue-me, companheira, nesta vaga angústia.

Mas vão-se tingindo com teu amor minhas palavras.
Tu ocupas tudo, ocupas tudo.

De todas vou fazendo um colar infinito
para tuas brancas mãos, suaves como as uvas.
 
(Pablo Neruda)
 
 

domingo, 5 de maio de 2013

PERCO-ME EM TI...





Na sala, no solo, a pele que nos protege do chão frio…
A lareira que guarda as chamas que nos iluminam…
Pedaços de madeira que crepitam…
...
O vinho, doce néctar que nos atordoa os sentidos…
A música que tu escolhes-te que nos envolve…
Ao longo da pele, um corpo de Deusa que me chama…
Murmura baixinho o meu nome, em gritos ensurdecedores…
Apenas á luz das chamas na sua dança estonteante…
Espalho-te um óleo, suave aroma pelo teu corpo…
Delicadamente, apenas….. suavemente…
Deixando sentir o teu corpo nos meus dedos…
Tocando-te quase sem te tocar…
Massajo-te os ombros, toque que tu adoras…
Deixo resvalar no óleo as mãos ao longo das tuas costas…
Até á cova do teu corpo, antes de duas elevações que me assombram…
Repito o toque ao longo de ti, ao longo do teu corpo…
Toque de mãos, de dedos, de lábios, saboreio-te…
Descaio, sempre deixando descair a língua sobre ti…
Paro, caio, precipito-me suavemente dentro de ti…
Língua que se perde no mais intimo do teu Ser…
Lábios que encostam a ti, língua que te saboreia, brincando…
Fazendo soltar doces gemidos de prazer…
Corpo que estremece, de encontro a mim, entras pela minha boca…
Sinto-te, quero-te, almejo por mais, ânsia de te possuir…
De entrar em ti, de me afundar em ti, perdendo-me…
Musica que nos envolve, a tua musica…. que tão bem conheces…
As chamas iluminam-te, os teus esgares de prazer…
Os teus olhos que reviram, os teus lábios que se contorcem…
O teu corpo que pede mais, a tua voz que suplica…
A tua Alma que se funde na minha…
Os nossos corpos que se unem, que se fundem apenas…
Dentro de ti estou no céu, abaixo as nuvens…
Ao longe tempos de escuridão, negrura que percorri…
Em ti, eu apenas ,á minha volta, tu por completo…

(Carlos L Fonseca)
 
 
 

É NOITE, MÃE




 As folhas já começam a cobrir
o bosque, mãe, do teu outono puro...
São tantas as palavras deste amor
...
que presas os meus lábios retiveram
pra colocar na tua face, mãe!...

Continuamente o bosque se define
em lividez de pântanos agora,
e aviva sempre mais as desprendidas
folhas que tornam minha dor maior.
No chão do sangue que me deste, humilde
e triste, as beijo. Um dia pra contigo
terei sido cruel: a minha boca,
em cada latejar do vento pelos ramos,
procura, seca, o teu perdão imenso...

É noite, mãe: aguardo, olhos fechados,
que uma qualquer manhã me ressuscite!...

(António Salvado) in "Difícil Passagem"

quinta-feira, 2 de maio de 2013