sexta-feira, 28 de julho de 2017

PERNOITAS EM MIM


Pernoitas em mim
e se por acaso te toco a memória… amas
ou finges morrer
...
pressinto o aroma luminoso dos fogos
escuto o rumor da terra molhada
a fala queimada das estrelas
é noite ainda
o corpo ausente instala-se vagarosamente
envelheço com a nómada solidão das aves
já não possuo a brancura oculta das palavras
e nenhum lume irrompe para beberes


(Al Berto)- in "Rumor dos Fogos"
11 de Janeiro de 1948 — 13 de Junho de 1997
Arte de: Katya Gridneva

segunda-feira, 24 de julho de 2017


Ela entrou no meu pé com o pé dela
e entrou na minha cintura com a neve dela.

(Leonard Cohen)

sexta-feira, 21 de julho de 2017


Todo o mundo é capaz de dominar uma dor, exceto quem a sente.
( William Shakespeare)

Escultura de: Moises Hergueta


A ausência cura o amor

(Miguel de Cervantes)

Arte de: Christopher Gallego, 2006


A saudade é o que faz as coisas pararem no tempo

(Mario Quintana)
Arte de: Karen Hollingsworth,


NÃO ME LEMBRO / MAS SEI


Não me lembro se chegaste a pedir para entrar nos meus dias. Mas que importa, apetece-me afundar no teu olhar e perder-me num momento que não termine nunca. Só eu sei como a voz dos teus olhos tem mais timbre que o som das gotas de orvalho… e elas caem nesta madrugada vindas do cimo de todas as flores. Enraizaste-te em mim como a neblina ao beijar a terra por cima do monte… intensamente… e os corpos evadem-se nessa bruma densa… toco-te… tocas-me a alma com esse sabor selvagem de quem está presente mesmo quando ausente… és mulher!


(Francisco Valverde Arsénio)

Phtography: 
 Elena Resina

quinta-feira, 20 de julho de 2017

O QUASE


Ainda pior que a convicção do não, e a incerteza do talvez, é a desilusão de um quase. É o quase que me incomoda, que me entristece, que me mata trazendo tudo que poderia ter sido e não foi. Quem quase passou ainda estuda, quem quase morreu ainda está vivo, quem quase amou não amou.
Basta pensar nas oportunidades que escaparam pelos dedos, nas chances que se perdem por medo, nas ideias que nunca sairão do papel por essa maldita mania de viver no outono.

Pergunto-me, às vezes, o que nos leva a escolher uma vida morna; ou melhor, não me pergunto, contesto. A resposta eu sei de cor, está estampada na distancia e frieza dos sorrisos na frouxidão dos abraços, na indiferença do “Bom Dia” quase que sussurrados. Sobra covardia e falta coragem até para ser feliz.

A paixão queima, o amor enlouquece, o desejo trai. Talvez esses fossem bons motivos para decidir entre a alegria e a dor, mas não são. Se a virtude estivesse mesmo no meio termo, o mar não teria ondas, os dias seriam nublados e o arco-íris em tons de cinza. O nada não ilumina, não inspira, não aflige nem acalma,  apenas amplia o vazio que cada um traz dentro de si.
Não é que fé mova montanhas, nem que todas as estrelas estejam ao alcance, para as coisas que não podem ser mudadas resta-nos somente paciência, porém, preferir a derrota prévia à duvida da vitória é desperdiçar a oportunidade de merecer.


Pros erros há perdão; pros fracassos, chance; pros amores impossíveis, tempo. De nada adianta cercar um coração vazio ou economizar alma. Um romance cujo fim é instantâneo ou indolor não é romance. Não deixe que a saudade sufoque, que a rotina acomode, que sonhando, fazendo que planejando, vivendo que esperando porque embora quem quase morre esteja vivo, quem quase vive já morreu. 


(Luiz Fernando Veríssimo )
(Apócrifo)
Arte de: Mariana Kalacheva

PRECE


Dá-me a lucidez das correntezas
para que eu descubra
entre as tristezas que se
avolumam algum
sorriso mesmo
que não seja para mim.

Dá-me a serenidade de uma
estrela para que eu imagine
entre as lágrimas que não
me deixam qualquer
paz ainda que breve.

Dá-me a claridade das
luas cheias para que eu invente
entre as angústias
que se esparramam um
horizonte mesmo
que se transmutem em ilusão.

Dá-me a esperança das
árvores para que eu teça
entre as ausências que se
intensificam uma sanidade
ainda que estofada de delírio


(Adair Carvalhais Júnior)
Photography: Natalia Drepina

O QUE EU QUERO


Não tenho paciência para ouvir os outros, não tenho paciência para viver,
 não tenho paciência para morrer, estou aqui, parada, num desequilíbrio interminável, 
nunca mais acabo de cair, irrito-me se me falam, sofro se me não dizem nada,
 odeio o gesto caridoso: a mão de alguém nos meus cabelos, 
o que eu quero é uma voz que me queira, 
 um momento de descanso nessa voz. 


Rui Nunes
Arte de: David Graux



É já tempo de não esperar ninguém. 
Passa o amor, fugaz e silencioso 
como ao longe um comboio noturno
 Não resta ninguém, é hora 
de voltar ao desolado reino do absurdo, 
a sentir culpa, ao vulgar medo
 de perder o que já estava perdido.
 À inútil e sórdida moral.
 É já hora de dar por vencido no trabalho,
 a sós, outro Inverno. 
Quantos faltam ainda, e que sentido
 tem esta vida onde te procurei, 
se chegou já a hora tão temida
 de comprovar que nunca exististe? 


(Joan Margarit)-tradução de Vasco Gato)

Photography: Paulo Laureano

quarta-feira, 12 de julho de 2017


Meu coração ainda se atreve a desejar, e minha vontade ainda ousa uma esperança.

(Tristão e Isolda])- Filme

Photography: Jo Alison Feiler


Como se o Amor
tivesse início na promessa
dos teus olhos
do teu corpo...
.
...
E a inventada primavera,
nos teus beijos,
fizesse propagar sol
e calor...
.
Assim é o Paraíso dos
sentidos, que
se deixa aprisionar na tua voz,
e o encantamento
dos sorrisos
que moram no meu peito à tua espera...
.

(Margarida Afonso Henriques)

Photography: Nishe


Por vezes
Gostaria de me desvestir
De mim

Jogar para longe
...

A pele
Que me tolhe
A alma


(Milem Ésoj 05.12.2014)

Photography: Anka Zuravleva


Onde estão as palavras?
Por que elas se despediram prematuramente de mim?
Silenciaram, por medo?
Quero poder ouvi-las novamente. Quero poder senti-las uma vez ainda.
Estou aqui. Permanecerei aqui, à espera do seu retorno, nesta mesma morada, onde um dia a minha imaginação também encontrou abrigo e proteção.

(Alexandre Rubenich)


Se eu correr, me acompanhe. Se eu esmorecer me apoie. Se eu tentar desistir, não me deixe.
Se a alegria me faltar em alguns momentos, faça riso. Se eu tiver dúvidas me dê razões para eu confiar. Sobretudo se eu disser, preciso de ti, fique, porque é de ti que eu realmente preciso.

(Ita Portugal)
Photography: Christer Strömholm - Paris, 1960


E se imagina, é porque tem vontade..


Que todos os toques sejam de amor!
Que as mão se entrelacem,
que não causem dor!!!

São tão preciosas as mãos...

(Marilne)

SAUDADE


Hoje estou com saudade de tudo, de todos.

Até de mim...

(Nivaldete Ferreira)


NESTE MEU SILÊNCIO...


Neste meu silêncio que é só meu
busco um céu aberto fulgurado de estrelas…
...
Busco um renascer num voo branco,
onde eu possa atravessar as nuvens,
me adornar com sorrisos claros
e regressar vestida de luz.

(Arnalda Rabelo)