segunda-feira, 31 de agosto de 2020

BLUES DA MORTE DO AMOR

"já ninguém morre de amor, eu uma vez
 andei lá perto, estive mesmo quase" 

(Vasco Graça Moura) -Excerto

 

A MORTE DA ROSA


 Morreu de mau cheiro.

Rosa igual, exata.
Subsistiu à sua beleza,
Sucumbiu à sua fragrância.
Não teve nome: talvez
lhe chamassem Rosaura,
Ou Rosa-fina, ou Rosa
do amor, ou Rosalva;
ou simplesmente Rosa,
como se chama a água.
Mais lhe valeria
ser sempre-viva, Dália,
pensamento com lua
como um ramo de acácia.

Mas ela será eterna:
foi rosa; e isso basta;

Deus a gurde em seu reino
à margem direita do alvorecer.

(Gabriel García Márquez)- 1945

SONETO QUASE INSISTENTE NUMA NOITE DE SERENATAS


 Queria uma mulher de sangue e prata.

Qualquer mulher. Uma mulher qualquer,
quando nas noites de primavera
se ouve distante uma serenata.

Essa música é alma. E mesmo não fosse
verdade tanta mentira seria bom
saber que sua voz sempre retrata
o coração de uma mulher qualquer.

Quero querer com música. E quero
que me queiram com tom verdadeiro
Quase em azul e quase eternamente.

Será porque esse ritmo me arrebata,
ou talvez porque ouvindo serenatas
dói-me o Coração musicalmente.

(Gabriel García Márquez) -1945