terça-feira, 20 de outubro de 2015

DE MIM PARA MIM COM AMOR



Desatei o laço
do ramo de rosas
que comprei
na florista
para mim
Abracei-as desatadas
soltas
rosas da cor do sol, do sangue, do fogo
resplandecentes
húmidas do orvalho
cúmplice
que a florista quis que tivessem
E rocei os lábios pelas pétalas
deleitada
evocando o prazer que terias
se fosses tu a dar-mas. 

(Ângela Leite)-in Metáforas Sobre o Amor

PODES FICAR AQUI?



Não vás embora,
precisarei de mais alguns minutos,
horas, dias, semanas, meses, anos,
eternidades para te esquecer…

( Fernando Pinto do Amaral)
Photography: Mariska  Karto

AS PEQUENAS PALAVRAS



De todas as palavras escolhi água,
porque lágrima, chuva, porque mar
porque saliva, bátega, nascente
porque rio, porque sede, porque fonte.
De todas as palavras escolhi dar.
De todas as palavras escolhi flor
porque terra, papoila, cor, semente
porque rosa, recado, porque pele
porque pétala, pólen, porque vento.
De todas as palavras escolhi mel.
De todas as palavras escolhi voz
porque cantiga, riso, porque amor
porque partilha, boca, porque nós
porque segredo, água, mel e flor.
E porque poesia e porque adeus
de todas as palavras escolhi dor.

( Rosa Lobato de Faria)

"se o teu coração quebrou ao meio... deita fora o que te dói,
e vive em paz com a metade que te cura.
o contrário, tentar esperar que tudo passe,
tentar esquecer o que te fez feliz.
tentar apagar da memória quem te fez bem....
esperar que o tempo apague..
não te enganes, esse remédio... só prolonga os teus dias doentes."


(William Shakespeare)
Photography: James  Weber

segunda-feira, 19 de outubro de 2015



(...) e na saudade da tua presença ... sonho(te)!

(Inês Clímaco)

Photography: Anna Theodora Styling


Choveu na sombra do meu corpo 

(António Patrício)

Foto de: Aria Baro


Não preciso de silêncio, já não tenho em quem pensar.

(Desconheço o autor)

E aqui estou à espera 

- com este destino

de dar sombra aos muros...

Mas à espera de quê? 

Que o despenhar no abismo 

me crie enfim asas? 


(José Gomes Ferreira)

Hoje dói-me pensar, 

dói-me a mão com que escrevo, 

dói-me a palavra que ontem disse ...

e também a que não disse, 

dói-me o mundo. 

Há dias que são como espaços preparados

para que tudo doa. 

Só Deus não me dói hoje. 

Será porque ele não existe? 


(Roberto Juarroz)

Julgava que te tinha dito adeus, 

um adeus contundente, ao deitar-me, 

quando pude por fim fechar os olhos, ...

esquecer-me de ti, dessas argúcias, 

dessa tua insistência, teu mau génio,

tua capacidade de anular-me. 

Julgava que te tinha dito adeus

de todo e para sempre, mas acordo, 

encontro-te de novo junto a mim,

dentro de mim, rodeias-me, a meu lado, 

invades-me, afogas-me, diante 

dos meus olhos, em frente à minha vida, 

por sob a minha sombra, nas entranhas,
em cada golpe do meu sangue, entras

por meu nariz quando respiro, vês 

pelas minhas pupilas, lanças fogo

nas palavras que minha boca diz.

E agora que faço?, como posso

desterrar-te de mim ou adaptar-me

a conviver contigo? Principie-se

por demonstrar maneiras impecáveis.

BOM DIA, TRISTEZA.


(Amália Bautista)

Foto de: Justin Tyler Norton

Modelo: Jennifer Anne Sullins



A dor é uma estrada: você anda por ela, no adiante da sua lonjura, para chegar a um outro lado. E esse lado é uma parte de nós que não conhecemos. Eu, por exemplo, já viajei muito dentro de mim...



(Mia Couto)


A saudade é uma "quase pessoa", que quando nos percebe sós, senta-se ao nosso lado e começa a contar histórias do que sentimos falta. Enquanto conta, nos abraça. Enquanto abraça, nos aperta.


(Fabrício Cunha) 

Arte de: Soledad Fernadez


Tão efémeras, as cumplicidades radiosas. Encontros de pele, de ideias, de atmosferas, flutuando como nuvens para o paraíso do esquecimento. Acreditava que o sentido da minha vida estava nesses encontros, e confronto-me agora com a falta que tu me fazes. Tu roubas-me o sentido, viciei-me nesse roubo, talvez seja ainda um vício do sentido, o supremo. Nós nunca fomos cúmplices, sabíamos demais um do outro. 
Éramos promíscuos. 



(Inês Pedrosa)


Quando gostamos de alguém, fazemos sem saber, de tudo um pouco até percebermos, que gostamos. E quando percebemos isso, aí, entendemos o porquê de sempre termos querido fazer ainda mais.
É assim que acabamos por ficar mais lá do que cá, e sempre, num nós.

( Luís Santos)


Quem dera eu aprendesse a viver cada dia como se fosse o último. O último para esquecer tolices. O último para ignorar o que, no fim de contas, não tem a menor importância. O último para rir até o coração dançar. O último para chorar toda dor que não transbordou e virou nódoa no tecido da vida. O último para deixar o coração aprontar todas as artes que quiser. O último para ser útil em toda circun...stância que me for possível. O último para não deixar o tempo escoar inutilmente entre os dedos das horas.



(Ana Jácomo)

photography: Natalie- D'Albert Watson 



Torna-mo-nos impermeáveis na solidão: dentro da pele não viaja ninguém, fora da pele ninguém nos vê passar.



(Jesús Jiménez Domínguez) 

Artists Duy Anh Nhan Duc, collaborated- Wit photographer Isabelle Chapius 

Ando de um lado para outro, dentro de mim.
Estou bastante acostumada a estar só, mesmo junto dos outros.


...

(Clarice Lispector)

Phtography : Sophia Molek


Amamos tão pouco e tão mal, com uma metade ou até mesmo com um quarto de nós mesmos. E amamos, no outro, alguns pedaços escolhidos, os mais conhecidos, aqueles que nos causam menos medo. É tão raro amarmos alguém por inteiro, com aquilo que nos agrada e com aquilo que não nos agrada. É tão raro sermos amados por inteiro, com nossas cavidades de sombra, com nossos dorsos de luz.



[Fabrício Carpinejar]

Quanta mulher no teu passado, quanta!
Mas que me importa?
Eu sou a manhã: apago estrelas!
Hás de ver-me, beijar-me em todas elas.
Mesmo na boca da que for mais linda!...
E quando a derradeira enfim vier,
Nesse corpo vibrante de mulher
Será o meu que hás de encontrar ainda.


(Florbela Espanca) - Portugal (1894-1930)

Arte de: Leonid Afremov

NOITES DE GUERRA INVENTADA



Não sei o nome do anjo que me acorda quando presa em pesadelos me debato com os temores que invento. E sofro. E transpiro ao ritmo de um coração tresloucado. E quando sufoco ele, o anjo, agarra-me, dá-me a mão, orienta-me ao regresso no alinhar de estrelas que me conduzem ao mundo onde me deito e, por vezes, me debato com todos os elementos da Natureza, conhecidos e os outros que invento. Nem sei como é, nem sei chamá-lo mas, deve existir! Só um anjo nos sabe amparar assim.

(Maria Elvira Bento)- Texto retirado do Blog, Brumas de Sintra

Bailarina: Natalia Osipova

SAUDADE



O discípulo pergunta:
– Mestre, o que é um encontro de almas?
– É quando você, ao conhecer alguém, diz: muito prazer; enquanto sua alma sussurra:...

Que saudade!

(Desconheço o autor)

Arte de:Delphi Artist Gallery

NÃO ME SUSSURES O VENTO



não me fales das gotas da chuva tombada no sol...

tenho as mãos áridas...
e a alma dormente na secura do silêncio

nem me mostres a luz que se esvai no poente...

tenho os olhos ausentes nas raízes do tempo
e o pensamento à deriva
na inclemência das horas

não me sussurres o vento nem as marés em regresso...

tenho os dedos vazios de palavras
e o corpo esquecido
da pureza das águas




(João Carlos Esteves) in Marginálias : poemas


Editora, Edita-me Editora 2015

SONTA PARA SILÊNCIO DE EMOÇÕES


Há um silêncio agradável na rua deserta que avisto do meu jardim -envolto numa mescla de aromas que activam os sentidos- nesta noite macia onde procuro a invisibilidade das ausências que recordo ao olhar o recorte das estrelas brilhantes que se espraiam pelo espaço. Estou no lugar certo para confidências, para abrir e libertar os ombros no ritmo manso de quem resp...ira lenta e profundamente acompanhando o ondular das folhas das árvores que dão sentido ao balbuciar de segredos, à gentileza dos sonhos que me levam onde não estou. Onde tu estás. Encontro-te em glória, numa ilusão desafiante nos universos sem vazios. Olho a noite e transporto-me para as longínquas paragens tropicais que me chegam aos dias de hoje com ecos de sonatas que dão tom a fantasias adormecidas em mantos das Luas que amparam silêncios de emoções. Fixo-te os olhos, sem impaciência, e antes que pronuncies qualquer som, coloco a ponta dos meus dedos nos teus lábios. Sei que nenhuma palavra poderá ser maior do que a saudade vivida a dois sobre a baía de Luanda

(Maria Elvira Bento)- Texto retirado do Blog "Brumas de Sintra"

DIFÍCIL



Difícil é esquecer,
lembrando.
...
Difícil é não poder,
querendo.

Difícil é não querer saber,
sabendo...

(José Gabriel Duarte)- in Marginálias : poemas


Editora, Edita-me Editora 2015

Arte de: kari-Lise Alexander

TENTATIVAS



Tentei escrever amor, com as letras mais simples.
Consegui apenas uma tormenta de conjugações.




(José Luís Outono) - in Marginálias : poemas


Editora, Edita-me Editora 2015

MAR IRMÃO



O mar ensinou-me um
dizer agitado. Talvez um acto directo e simples
de uma razão herdada....
O mar é o meu irmão
de viagens, em azimutes perdidos ou sonhados,
quantas vezes sintonias impossíveis
de azuis nebulosos.
O mar é um pulmão de vontades,
onde ausculto sedes e bebo marés sem paradigmas
ou teses editadas.
Hoje, gostaria que mergulhasses em mim...


(José Luís Outono) - in Marginálias : poemas

Editora, Edita-me Editora 2015
Arte de: Aldo Rojas 


Milhares e milhares de palavras vagueiam pela mente humana. O pensamento é a fonte produtora delas. Se exploradas e organizadas, certamente farão com que o vazio da alma seja preenchido.



(Joel Alves Bezerra)


Não digas nada, dá-me só a mão. Palavra de honra que não é preciso dizer nada, a mão chega. Parece-te estranho que a mão chegue, não é, mas chega. (…) Se calhar sou uma pessoa carente. Se calhar nem sequer sou carente, sou só parvo.



(António Lobo Antunes)


Acredita na eternidade das pedras e não na dos sentimentos; acredita na integridade da água, do vento, das estrelas. Eu acredito na continuidade das coisas que amamos, acredito que para sempre ouviremos o som da água no rio onde tantas vezes mergulhámos a cara, para sempre passaremos pela sombra da árvore onde tantas vezes parámos, para sempre seremos a brisa que entra e passeia pela casa, para sempre deslizaremos através do silêncio das noites quietas em que tantas vezes olhámos o céu e interrogámos o seu sentido. Nisto eu acredito: na veemência destas coisas sem princípio nem fim, na verdade dos sentimentos nunca traídos.



(Miguel Sousa Tavares)


para não morrer de espanto, para poder com isto, para não ficar só e doido, é que inventei a insignificância, as palavras 



(Raul Brandão)

As pessoas dão demasiada importância à primeira vez. 

E a última vez? 

Ninguém pergunta pela última vez....

A última. 

A última de todas.

A última das últimas. 

A última depois da qual não há mais nenhuma. 


(Pedro Mexia)

Não me perguntes,
porque nada sei
Da vida,
Nem do amor,
Nem de Deus,...
Nem da morte.
Vivo,
Amo,
Acredito sem crer,
E morro, antecipadamente
Ressuscitando.
O resto são palavras
Que decorei
De tanto as ouvir.
E a palavra
É o orgulho do silêncio envergonhado.
Num tempo de ponteiros, agendado,
Sem nada perguntar,
Vê, sem tempo, o que vês
Acontecer.
E na minha mudez
Aprende a adivinhar
O que de mim não possas entender.


(Miguel Torga) 

Photography: Anna O.

COSTUMO CAIR NOS TEUS DEDOS



Costumo cair nos teus dedos
duas mãos de amparo
a evitar queda maior...

e tu riste-te sempre
a contar o número de vezes
em que caí nos teus dez dedos

por isso nunca 
me esqueço de ti

além de outras coisas mais
como os enormes silêncios
de noites tão repetidas

costumo cair nas tuas mãos



(Joaquim Alves)

afinal a solidão é muito mais densa que qualquer nevoeiro - afinal a solidão pode vir mascarada de sorrisos e "boas vontades" - afinal ---- a solidão é sempre mais forte - afinal a solidão renasce apenas num olhar de - eu - afinal a solidão só quer que assim seja - que estejamos sozinhos - em momentos de abraços - a solidão abraça com braços mornos - que arrefecem --- com o tempo - afinal - e´assi...m - afinal a solidão não nos quer acompanhados- suga-nos com beijos molhados - cega-nos com esperança - afinal - a solidão é tudo isto - e descobrimos num esgar de olhos - num sorriso egoísta - num cobrar de fazer - assim que se sente confortável - senta-se no nosso ombro e sorri s- a solidão - com sorriso diabólico - sem palavras sussurra - e já sabia! a solidão tem uma cauda que nos escorrega pelas costas - nos aconchega no meio do nada que sentimos - a solidão tem pernas e antenas---- afinal - sempre aqui estiveste - disfarçada de sorrisos e boas vontades - vem... senta-te aí - aconchega-te no meu ombro --- já te conheço tão bem --- queres um café? fazes-me companhia? - hoje--- podes dormir comigo - sem te esconderes nas dobras do lençol- vem - bebe o café - fuma um cigarro - diz-me porque voltaste --- 



(TMQ)