quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

O ÚLTIMO POEMA



Assim eu quereria meu último poema
Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos intencionais
Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas
Que tivesse a beleza das flores quase sem perfume
A pureza da chama em que se consomem os diamantes mais límpidos
A paixão dos suicidas que se matam sem explicação.
 
(Manuel Bandeira)
 
Arte de: Patricia Leroux

SONETO DA DEVOÇÃO


Essa mulher que se arremessa, fria
E lúbrica aos meus braços, e nos seios
Me arrebata e me beija e balbucia
Versos, votos de amor e nomes feios.
Essa mulher, flor de melancolia
Que se ri dos meus pálidos receios
A única entre todas a quem dei
Os carinhos que nunca a outra daria.
Essa mulher que a cada amor proclama
A miséria e a grandeza de quem ama
E guarda a marca dos meus dentes nela.
Essa mulher é um mundo! — uma cadela
Talvez… — mas na moldura de uma cama
Nunca mulher nenhuma foi tão bela!
 
(Vinícius de Moraes)

sábado, 14 de fevereiro de 2015


Gosto de adivinhar o teu corpo,
sempre que o escondes no meu...
 
(José Gabriel Duarte)- in As Cores do Desejo: Poemas improváveis
 
Editora, Versbrava 2014

CUMPLICIDADES


Numa dessas tardes
As nossas mãos encontraram-se,...

E sem perder tempo
Colaram-se

Quiseram ser as primeiras
____as pioneiras____
A conhecerem-se,
A despirem-se
A partilharem
Mil cumplicidades...

Numa dessas tardes
As nossas mãos leram-se,
E descobriram-nos

Consumaram-se
As vontades...

 (José Gabriel Duarte)- As Cores do Desejo: Poemas improváveis

Editora, Versbrava 2014

FAZ POR TI


Faz o Sol por ti antes que arda.
Faz a chuva por ti antes que chores.
Faz a Lua por ti antes do dia.
Faz um sonho por ti antes do pequeno-almoço....
Faz um filho por ti com alguém.
Faz um negócio por ti por dinheiro.
Faz um vestido, não por ti, mas pelo teu corpo.
Faz um caminho por ti antes que te doam as pernas pela falta de uso.
Faz um festival da canção, afasta a mesa da sala, usa uma escova como microfone, faz as canções todas do
mundo por ti e as brilhantinas todas do mundo por ti.
Faz uma corrida por alguém e corta por ti a meta.
Corta por ti uma laranja e sorve o sumo por uma pessoa só se tiveres muita sede.
Faz por ti um facho… e alumia quem te segue.
Faz por ti com rigor mesmo rodeado de indolentes.
Faz por ti com calma mesmo assolado por patrões.
Faz por ti a coragem e serás assustador sempre que for preciso.
Faz por ti a sabedoria e saberás sempre que estiveres
calado.
Não faças pouco de ti.
Não faças pouco dos outros.
Faz por ti como o dia quando acordas.

 (João Negreiros)- Poema do Livro: Manual da Felicidade (a publicar)

Quem foi que à tua pele conferiu esse papel de ... mais que tua pele ser pele da minha pele?


 (David Mourão- Ferreira)

Sobre o amor tudo foi já inventado,
menos a forma de o escondermos...

 (José Gabriel Duarte)-in As Cores do Desejo: Poemas improváveis

Editora, Versbrava 2014

TALVEZ FOSSE


Não sei se era amor o que eu sentia
Ou se era um sentir de amor
Que me queria
...

Não sei se era amor o que eu sentia
Ou talvez fosse apenas dor
Mas dor que não feria
Nem doía
Nem passava
Talvez pelo tempo que fugia

Não sei se era amor o que eu sentia
Ou talvez fosse apenas ardor
Que me trespassava
Que me aquecia
E me despia

Não sei se era amor o que eu sentia
Nem nunca o irei saber
Sei que era dor
Mas também ardor
Talvez fosse amor puro
Talvez fosse pura fantasia...

 (José Gabriel Duarte)-in As Cores do Desejo: Poemas improváveis

Editora, Versbrava 2014

Amo o silêncio por que ele preenche com elegância as reticências que minha alma
não consegue preencher. Pela sutileza de dizer o que calei por descuido, de
propósito, e o que calei sem saber.
Amo o silêncio por que ele traz em si a ambiguidade intocável do mistério,a beleza inviolável do que se diz, ... sem dizer.

(Edna Frigato)

Foto de: Paul Apal'kin