quarta-feira, 2 de novembro de 2016

DOS TEUS DEDOS


Do vento conheço o sopro
por vezes a velocidade
dos teus dedos só conheço
a medida calma dos poros

(Joaquim Alves)

TROPEÇO NO TEU NOME


Tropeço no teu nome
nas tuas mãos
estendidas
no teu olhar longo
de infinito
tropeço em tudo
o que seja teu
um sorriso
um beijo
um abraço
faz-me um favor
tropeça em mim


(Joaquim Alves)

Arte de: Oleg Sheludyakov


Em todos os prédios há pessoas juntas que nunca se encontraram.

(Pedro Chagas Freitas)

A FORMA COMO ME AMAS MÃE


Há qualquer coisa de Deus na forma como me amas, mãe.
As pessoas não são tão grandes como tu, as pessoas não aguentam tanto a vida como tu. As pessoas choram, as pessoas sofrem, as pessoas passam pela vida à procura da melhor maneira de viver. Mas tu amas-me, mãe. Tu amas-me assim, sem condições, e parece que quando me amas nem sequer existes. Apenas ficas ali, a ver-me existir, e é assim que descobres e me ensinas que a vida se resume a ver quem amas viver.

Há qualquer coisa de impossível na forma como me amas, mãe.
O possível teria de exigir que parasses quando te dói, que parasses quando o mundo, filho da puta do mundo, te obriga a inventares novas maneiras de me dares tudo o que eu preciso. O possível iria dizer-te que não, que uma só pessoa, tão pequena e tão grande como tu, não pode suportar todo o peso de duas vidas. E tu ainda aí estás, tão forte como só tu, tão impossível como só tu, a sorrir quando me vês de caderno na mão a dizer que sou o melhor aluno da turma. É claro que é bom ser bom aluno, mas o meu maior orgulho é ser filho da mãe mais impossível do mundo.

Há qualquer coisa de genial na forma como me amas, mãe.
As pessoas não inventam o tempo como tu, as pessoas não conseguem entender qual é a equação que permite estar sempre onde tem de se estar, as pessoas chegam atrasadas, as pessoas falham a responsabilidades, as pessoas por vezes esquecem-se do que têm de fazer, as pessoas não conseguem fazer com que metade do que precisariam para viver chegue para viverem sem nada lhes faltar. E tu consegues o milagre da multiplicação dos pães e dos corpos, estás no sítio exacto onde te preciso na hora exacta onde te preciso com as palavras exactas de que preciso, a falares-me de como é importante acreditar que sabemos tudo mesmo que seja importante acreditar que não sabemos nada, e eu ouço-te e percebo que o segredo da tua existência é saberes que só o amor derrota a matemática, e que número nenhum está à altura de quando me abraças.

Há qualquer coisa de eu todo na forma como me amas, mãe.
E quando me perguntarem que idade tem a minha mãe direi apenas que para sempre. 


(Pedro Chagas Freitas)- in 'Prometo Falhar' 

Photography: Morgulis Dimitry L.

O tempo de sedução terminou. Terás de me tocar, terás de trocar o tacto dos olhos pelo tacto dos dedos. 
Apenas persistirá o jogo, a cumplicidade, e uma ténue vibração do corpo que se perdeu contra o meu corpo. 

(Al Berto]
Foto: Move- On


E ela tentou amá-lo. Mas ela reclamou que ele proferiu palavras tão comuns, que ele nunca poderia dizer a frase mágica que abriria seu ser.

(Anaïs Nin)


Arte de: Christian Schloe