sexta-feira, 23 de maio de 2014

42 GRAUS


Desliza-me na pele

o fio incandescente dos teus dedos,
...

que eu entrarei de frente

pelo sol,

e arderei no sol,

sem medo -

(Ana Luísa Amaral)

Escuto o silêncio que há em mim e basta.

 (Ana Carolina)

  Escultura de: Emilio Fiaschi - 1858- 1941

Acorda-me
um rumor de ave.
Talvez seja a tarde
a querer voar.

A levantar do chão...

qualquer coisa que vive,
e é como um perdão
que não tive.

Talvez nada.
Ou só um olhar
que na tarde fechada
é ave.

Mas não pode voar.

(Eugênio de Andrade)
 
Desconheço o autor da escultura
 

QUERO...


Nas magras mãos do vento 
Suave a pena e o intento.
Amanhã…pode ser amanhã…
Um céu ameno de bem-querer
Ausente do que hoje é este ser.
Quero a sede das aves…
Beber dessa fonte, os teus lábios.
Quero o calor da terra…
E beber do céu, o teu olhar.
Quero o frio da noite…
Adormecer no conforto desse abraço.

Quero…

(Maria Santos Alves) - 17/01/2014
 

CONTIGO


Vivo a noite contigo
e juntos andamos
em quietude de seda.
...

Pele e vontade
corpo e verdade
um sal de ti.

Vivo a noite contigo
e vou pela quentura
do teu peito adormecido
até ao fim das estrelas.

(Edgardo Xavier)- in Azul como o silêncio

MOVIMENTO


Se tu és a égua de âmbar
eu sou o caminho de sangue
Se tu és o primeiro nevão...

eu sou quem acende a fogueira da madrugada
Se tu és a torre da noite
eu sou o cravo ardendo em tua fronte
Se tu és a maré matutina
eu sou o grito do primeiro pássaro
Se tu és a cesta de laranjas
eu sou o punhal de sol
Se tu és o altar de pedra
eu sou a mão sacrílega
Se tu és a terra deitada
eu sou a cana verde
Se tu és o salto do vento
eu sou o fogo oculto
Se tu és a boca da água
eu sou a boca do musgo
Se tu és o bosque das nuvens
eu sou o machado que as corta
Se tu és a cidade profunda
eu sou a chuva da consagração
Se tu és a montanha amarela
eu sou os braços vermelhos do líquen
Se tu és o sol que se levanta
eu sou o caminho de sangue

(Octavio Paz) - in Salamandra

Arte de: Henry Asencio

SOU ROSA BRAVA


Sou Roseira brava de riso e fulgor,
E nasci em trajes belos num jardim,
Com gestos ternos e mudos, assim,...

E com a alma de rosa brava em flor.

E ao nascer do Roseiral, com Amor,
Eu vi que esta rosa nascida carmim,
Era a alma de flor existente em mim .
Com espinhos, picava, causava dor.

Agora sou Rainha Brava do Roseiral.
Chamam-me assim, mas não faz mal,
Sou Roseira Brava, alma ternurenta..
.

Irmã da dor, toda flor,no jardim aqui,
Com gestos d´amor, ternura,aqui,ali
Salvo a terra no jardim da tormenta

(Não sei se dá para ver que a Rosa brava sou eu)

(Conceição Roseiro)

"Além dos meus espinhos, eu tenho também muitas flores."

 (Bárbara Flores)

"A música é uma das maiores formas de manifestação da poesia."

 (Marcia Flores)

Arte de: Michael Cheval

TUDO ACONTECE


Debulham-se árvores em fim
de estação
Ar fresco vai silenciando...

A penumbra do anoitecer
Olhar triste que assim
acontece
No deslumbramento
da tarde
Que aos poucos se esquece

Esconde-se o sol no horizonte
Laivos de fogo pintam o céu
Manchas de escarlate
se desenvolvem
Fundo negro escurece
Trovões que trovejam
e fogem
E o inesperado acontece

Bátegas de água se derramam
Riachos correm de aflição
Tudo se aconchega
e reverdece
Depois se desenvolve
e cresce
E tudo de novo acontece

Assim se renovam tardes frementes
Em cores de esperança prementes

(paxiano)

Foto de: Duong Quoc Di
nh

GOSTAVA DE TE TER POR PERTO...


Cai chuva no meu interior como na rua. A minha pele foi infiltrada pela melancolia dos teus olhos. Nem sempre a chuva derrama tristeza…mas hoje há tristeza nesse céu aberto e nem um abraço colorido, nem um sorriso de sol, nem as aves voam alto com as palavras escritas nas suas asas.
Gostava de te ter por perto...tenho este afago em silêncio que te é reservado, flo...
resce em lírios, narcisos, margaridas e jasmim de cada vez que o sonho te despe. É Abril que se mascara neste dia de Inverno e dança a valsa de quem tanto se quer…
Podem os poetas inventar as madrugadas, recolorir os caminhos, trovar orgasmos entre as palavras, beijar oceanos e se o desejar ser a própria lua, luar…mas este carinho é silêncio derretido nas essências do verbo que te falta sentir.

Gostava de te ter por perto…

(Maria dos Santos Alves) -21 de Janeiro de 2014

UM VERSO DE BORBOLETAS


Gostava de escrever um verso sem letras
onde as letras fossem borboletas
e as estrofes flores…
...

Assim… as borboletas voariam de flor em flor
os versos mudariam de cor em cor
e a fragância da primavera
doce como o néctar
espalhar-se-ia no teu sorriso
abraçar-te-ia com a sua alegria
e eu ouviria o teu riso…

Teríamos assim a mais doce melodia
inserida na poesia de uma primavera radiante
que tornaria o tempo exuberante…

O poema seria a liberdade da vida
nas asas de uma borboleta
o bailado gracioso na orquestra do vento
perfumado de alfazema… sons… cor violeta…

cor… aroma… liberdade… alegria… vida VIVIDA!

(Mariana Loureiro)
 

TEU E MEU CORPO


Saudade de mexer contigo,
Te ter teu corpo como abrigo,
De morar no teu olhar,...

Respirar na tua boca,
Que consome como louca,
A minha arte de beijar
Saudades do teu sabor
De sentir o teu amor
No meu peito a correr,
E as tuas mãos a tremer,
Quando tocas no meu corpo,
Fica morto,
De prazer….
 
(rosamar)
Arte de: Henry Asencio


APETECE-ME...


apetece-me o teu sabor,
apetece-me o gozo de sentir
o teu calor,...

apetece-me dormir nua,
com a pele vestindo a tua,
e a boca sabendo a lua,
com o corpo ao teu dispor...

apetece-me...

apetece-me a cor de um beijo,
derramando este desejo,
no teu corpo, cheiro de flor,
e beber da tua fonte,
uma fonte que derrama,
um cheiro de amor na cama,
amor vestido de amor...

(Rosamar)

sexta-feira, 9 de maio de 2014

SAUDADE...


"...Magoa-me a saudade
do tempo em que te habitava
como o sal ocupa o mar
como a luz recolhendo-se...

nas pupilas desatentas..."

 (Mia Couto)

«Se eu pudesse dar-te aquilo que não tenho
e que fora de mim jamais se encontra
Se eu pudesse dar-te aquilo com que sonhas
e o que só por mim poderá ter sonhado

Se eu pudesse dar-te o sopro que me foge
e que fora de mim jamais se encontra
Se eu pudesse dar-te aquilo que descubro
e descobrir-te o que de mim se esconde

Então serias aquele que existe
e o que só por mim poderá ter sonhado» (p.53)
 
(Ana Hatherly) - in idade da escrita, Ed. Tema, 1998


Melhor dormir se o tempo se faz sem ti e guardar-te em sonho até tu mesmo seres noite.

(Mia Couto)



Um beijo é  uma amável travessura criada pela natureza para nos calar quando as palavras se tornam supérfluas.”

(Ingrid Bergman)

Foto de: Ingrid Bergman

COVA SAGRADA


Nunca será tarde nem cedo
Para voltar à tua cova
sagrada
Em noite vestida de escuro...

Ou na cauda da madrugada

Nunca será tarde nem cedo
Para ouvir a música
da chuva caída
Em ritmos cadenciados
Refúgio de melodia
Segredos vivos guardados

Nunca será tarde nem cedo
Para inalar odores da terra
molhada
Perfume inebriante
Tão sentido e vivido
Tão desejado, quanto distante

Será sempre um momento
terno e doce
Para te olhar, sentir e ver
Será sempre de emoção a crescer

Quando te sonho... te sinto e canto
E as lágrimas que deixo cair
Podem ser de alegria... ou de pranto

[paxiano]

Fui punida por abraçar ...
Os braços foram-me tirados, cantava. Fui punida por abraçar. Abracei.
Prendi todos os que amei. Prendi nos momentos mais belos da minha vida.
Fechei nas mãos a plenitude de cada hora.
Os braços apertados no de...
sejo de abraçar.
Quis abraçar a luz, o vento, o sol, a noite, o mundo inteiro e quis retê-los.
Quis acariciar, curar, embalar, aclamar, envolver, cercar.
Forcei-os e prendi de tal modo que se partiram; partiram de mim."

  (Anaïs Nin)

TU ME INSPIRAS AMOR


Tu inspiras os meus dias
Alojas-te no meu pensamento
E sinto a tua presença, sempre...
A cada momento...

Tenho o desejo do teu beijo
Meu corpo chama o calor do teu
Procuro o ninho do teu abraço
A carícia da tua alma de amor
O toque da tua pele...
E numa turbulência de sensações
Consegues enlouquecer-me
Consegues devolver-me o sorriso...
Com os gestos mais simples
Como uma carícia que beija a pele
Como a brisa que chega suave
E se transforma...
Se transforma num mar alto de desejos...
E levas-me... levas-me apenas...
Levas-me a desejar-te
Levas-me a desejar que as horas passem
Que os dias voem
Que o momento aconteça...
E é nesta altura que queria que as horas parassem
Que o mundo parasse de girar
Que tudo se prolongasse
E o amanhã não mais chegasse...
Amo-te...
(rozy a.c)

TE BUSCO...


Busco as estrelas
Quero te encontrar
Busco teu rosto
na multidão....

Não te encontro
Sei que estás
em outro Mundo
e clamas por mim
Como eu clamo por ti
Sei que já fomos um só
Estamos separados
por nossa própria culpa
Quero te reencontrar
Busco teu rosto
mas sei que na multidão
não estás
Sei que vives só
em teu Mundo
assim como eu
vivo só
na multidão
Me espera
Estou indo
Mas se a saudade
for muita
Vem me buscar

(Poeta Van)

domingo, 4 de maio de 2014

TOCA-ME


 Não te aproximes mais,
fica aí,
à distância das memórias por não ser,
no limbo dos princípios,
no silêncio das coisas por dizer.
Fica,
não te aproximes mais
(de mim)....

Poderás queimar-te no frio intenso da falsa lonjura,
poderás arrefecer as mãos no calor das reais aparências,
não vês...?

(Há três pelinhos brancos, a apagar-me as sobrancelhas, um enredo de atalhos a confundir-me os caminhos do rosto, erros do tempo manchando a minha pele.
E o cabelo, já não é feito do ouro antigo que a minha mãe usava ao peito, em delicada filigrana... Não, troquei-o por bijuteria moderna, de pouca dura, e brilho artificial.)

Não te aproximes mais,
fica aí,
à distância das palavras por escrever,
na fímbria dos indícios,
na certeza das coisas por viver.
Fica.
Não te afastes mais
(de ti).
Poderás magoar-te na saudade imensa da real ternura.
poderás curar-te do cómodo vício de falsas vivências,
não vês...?

(Há uma riqueza maldita, nos subterrâneos do meu ser, uma mina encantada que nunca chegarei a saber se é de ouro, de prata ou de pragas. Já me pisaram tantas vezes, que a minha pele se fez terra, os meus braços, árvores, os meus olhos, asas. Se sei voar, se te iludo azuis, lembra-te, trago por dentro ventos que os olhos não vêem, cores que ninguém inventou, restos de reconhecimento, encantos de ser próprio que ainda ninguém tocou.)

Aproxima-te, se quiseres,
vem aqui,
para perto do que há a perceber
ao alcance dos inícios,
na dúvida das coisas por saber.
Fica,
se ficar for permanecer
(assim)
respeitando os estragos como antigos livros de aventuras,
coabitando em mim sem luz nem guia, apenas por instinto de sobrevivência.

Eu sou aquela que sempre quiseste,
mas que nunca quiseste ter.

Toca-me.

(T.T)

"DE.MORA.TE - O SENTIR É SÓ A UM INSTANTE MAIS..."


Não te limites a passar por mim
de olhos assobiando asas:
demora-te,
não me evites...

como se o meu fundo
fosse o abismo que não ousas
saber teu
-
reconhece-te:
não há céu,
não há chão,
sem o voo que atravesse
o sentir do coração.

(T.T
)

PARA A MINHA MÃE - Eternas Saudades***


Um dia, o Amor estendeu as mãos
para o nada e abriu o espaço...

Um dia, o Amor estendeu as mãos...

para o homem e abriu-se o encontro...

Um dia, o Amor se tornou
vida de tua vida e eu existi...

Mãe, o céu sem confins revela-me teu amor...
A vastidão do mar fala-me da tua bondade...
As altas montanhas refletem teu heroísmo...
A profundeza dos vales espelha tua humildade...
A beleza das flores traduz teu caminho...

Tudo isso encerras dentro de teu grande coração...
E silenciosa, serena, sorrindo,
continuas labutando no cotidiano da vida.

Um dia, o Amor se tornou
vida de tua vida e eu existi.

Obrigada, Mãe!

 (Desconheço o autor)

quinta-feira, 1 de maio de 2014

SEM RESPOSTA


Envio-te palavras interditas
Até ao fim do desespero
Donde não se sabe nada
E a luz vai perdendo claridade...


Envio-te estrelas douradas
E recolho apenas o luar
fachos de luz rendilhado
Com a mais serena suavidade

Envio-te lagos de esperança
Onde as águas agitadas
Se levantam
E se quedam na tranquilidade

Envio-te uma lágrima serena
Cristalizada
Prenda minha, dor sentida
Onde o tudo…
É tão pouco, muito pouco quase nada

Envio-te barcos frágeis de papel
Pelas águas da tua levada
Enfim!... envio-te o meu sorriso
Mas o vento...
O teu vento, não me disse nada

 ( paxiano)

Foto de: Duong Quoc Dinh

APONTAMENTO


A minha alma partiu-se como um vaso vazio.
Caiu pela escada excessivamente abaixo.
Caiu das mãos da criada descuidada.
Caiu, fez-se em mais pedaços do que havia loiça no vaso....

Asneira? Impossível? Sei lá!
Tenho mais sensações do que tinha quando me sentia eu.
Sou um espalhamento de cacos sobre um capacho por sacudir.
Fiz barulho na queda como um vaso que se partia.
Os deuses que há debruçam-se do parapeito da escada.
E fitam os cacos que a criada deles fez de mim.
Não se zanguem com ela.
São tolerantes com ela.
O que era eu um vaso vazio?
Olham os cacos absurdamente conscientes,
Mas conscientes de si mesmos, não conscientes deles.
Olham e sorriem.
Sorriem tolerantes à criada involuntária.
Alastra a grande escadaria atapetada de estrelas.
Um caco brilha, virado do exterior lustroso, entre os astros.
A minha obra? A minha alma principal? A minha vida?
Um caco.
E os deuses olham-no especialmente, pois não sabem por que ficou ali.

 (Álvaro de Campos- 1929)
 



Minha alma é um quarto onde os objetos mais estranhos estão colocados, um ao lado do outro, sem ordem, sem nenhuma intenção de fazer sentido."

 (Rubem Alves)

A vida precisa do vazio: a lagarta dorme num vazio chamado casulo até se transformar em borboleta. A música precisa de um vazio chamado silêncio para ser ouvida. Um poema precisa do vazio da folha de papel em branco para ser escrito. E as p...essoas, para serem belas e amadas, precisam ter um vazio dentro delas. A maioria acha o contrário; pensa que o bom é ser cheio. Essas são as pessoas que se acham cheias de verdades e sabedoria e falam sem parar. São umas chatas quando não são autoritárias. Bonitas são as pessoas que falam pouco e sabem escutar. A essas pessoas é fácil amar. Elas estão cheias de vazio. E é no vazio da distância que vive a saudade...”

(Rubem Alves)
 
Arte de: Ou  Chujian




Talvez o amor não passe de uma deliciosa ilusão que se realiza em momentos sagrados, raros. Quando ele acontece é aquela felicidade imensa, aquela certeza de eternidade!... "

 (Rubem Alves)