sexta-feira, 13 de novembro de 2015

MODO DE AMAR IX


Enlaçam as pernas
as pernas
e as ancas
o ar estagnado
que se estende
no quarto
As pernas que se deitam
ao comprido
sob as pernas
E sobre as pernas vencem o gemido
Flor nascida no vagar do quarto.

(Maria Teresa Horta)
Arte de: Nicoletta Tomas Caravia

CALAM-SE AS PALAVRAS


Calam-se as palavras
Quando num beijo,
A minha boca, a tua encontra.
Esquecem-se as palavras
Quando num abraço,
O meu corpo, tornas o teu.
Como é simples o silêncio
Dos gestos que trocamos.


(Encandescente)

NÃO QUERO VIVER SEM TI


Não quero viver sem ti
mais nenhum tempo.
Nem sequer um segundo
do teu sono.
Encostar-me toda a ti
eu não invento.
Tu és a minha vida
o tempo todo.


(Maria Teresa Horta)

VOLÚPIA



No divino impudor da mocidade,
Nesse êxtase pagão que vence a sorte,
Num frémito vibrante de ansiedade,...
Dou-te o meu corpo prometido à morte!

A sombra entre a mentira e a verdade…
A nuvem que arrastou o vento norte…
- Meu corpo! Trago nele um vinho forte:
Meus beijos de volúpia e de maldade!

Trago dálias vermelhas no regaço…
São os dedos do sol quando te abraço,
Cravados no teu peito como lanças!

E do meu corpo os leves arabescos
Vão-te envolvendo em círculos dantescos
Finalmente, em voluptuosas danças…

(Florbela Espanca)

No meu poema ficaste
de pernas para
o ar
(mas também eu
já estive tantas vezes)...

Por entre versos vejo-te as mãos
no chão
do meu poema
e os pés tocando o título
(a haver quando eu
quiser)

Enquanto o meu desejo assim serás:
incómodo estatuto;
preciso de escrever-te
do avesso
para te amar em excesso


(Ana Luísa Amaral)

Photography: Ludovic Florent