quinta-feira, 6 de agosto de 2015

AUTO-RETRATO


É neste encontro sem tarde,
Que poiso meu olhar no sonho,
Nada é cinzento......

Meu corpo se veste de arco-íris,
Sou-me colorido silêncio,
É neste encontro sem hora marcada,
Que meus pés percorrem vielas de pensamento,
Tudo é branco...
Meu coração se embriaga de melodia,
Sou-me aurora boreal tranquila,
É neste encontro por acontecer,
Que embarco nas vielas do a-mar,
Tudo e Nada é meu...
Minh`alma se fragmenta em pó de saudade,
Sou-me apenas... Eu-retrato!
[Gosto quando meus olhos se vestem de asas-sonhos-madrugadas...]
 
(Cristina Correia)- in Nas Margens do Meu Rio

Faz-me um poema que tenha o teu cheiro e a tua textura. Lê-mo devagar, como se mo pusesses lentamente debaixo da pele. Permite-me que sinta cada palavra como se fosse um beijo. Repete-o depois mais uma vez com a cabeça pousada no meu ombro e deixa-te ficar assim, em silêncio, sem desistires de me escutar. Vou contar-te uma história que dura apenas o tempo de uma história. Não é demasiado grande, nem tão-pouco pequena. Tem apenas a duração necessária para que toda a história faça sentido a quem a escuta.




 (José Micard Teixeira)

Sempre existiram pessoas que exigiram mais e mais.
Mais amor, mais amizade, mais dos outros sentimentos.
E mais de cada uma de todas as outras pessoas,
e mais, até, delas mesmas.
Mais rio para todos os rios, mais mar para todos os mares,...

mais azul para fazerem mais céu,
e mais horizonte e mais mundo.
-E há umas pessoas que, com um singelo amor apenas,
sem que nunca o tivessem pedido, ou tão pouco exigido,
têm também tudo isso.
Não sabem que o que têm é tudo isso,
e são, certamente também por isso, muito mais felizes.

(SÓ QUEM NOS AMA NOS DÁ O MUNDO
- E TRÁ-LO DENTRO.)

 (Sérgio Lizado)- in, "A que soam os amores?"

Habitas (me) sempre, a cada sopro de vida. E nesse tempo chamado sempre, fecho os olhos de saudade para que a minha alma ... te guarde!



 (Inês Clímaco)

Imagem de: Anka Zhuravleva

Intimidade ... é estar sozinha, a dois!



 (Inês Clímaco)

A MORTE DEVAGAR


(...)
Morre lentamente quem não troca de ideias, não troca de discurso, evita as próprias contradições.
Morre lentamente quem vira escravo do hábito, repetindo todos os dias o mesmo trajecto e as mesmas compras no supermercado. Quem não troca de marca, não arrisca vestir uma cor nova....

Morre lentamente quem evita uma paixão, quem prefere o preto no branco e os pingos nos is a um turbilhão de emoções indomáveis, justamente as que resgatam brilho nos olhos, sorrisos e soluços, coração aos tropeços, sentimentos.
Morre lentamente quem não viaja, quem não lê, quem não ouve música, quem não acha graça de si mesmo.
Morre lentamente quem destrói seu amor-próprio.
Morre lentamente quem passa os dias queixando-se da má sorte ou da chuva incessante, desistindo de um projecto antes de iniciá-lo, não perguntando sobre um assunto que desconhece e não respondendo quando lhe indagam o que sabe.
Morre muita gente lentamente e esta é a morte mais ingrata e traiçoeira, pois quando ela se aproxima de verdade, aí já estamos muito destreinados para percorrer o pouco tempo restante.
Que amanhã, portanto, demore muito para ser o nosso dia.
Já que não podemos evitar um final repentino, que ao menos evitemos a morte em suaves prestações, lembrando sempre que estar vivo exige um esforço bem maior do que simplesmente respirar.
(...)

 (Martha Medeiros)

Arte de: Kharlamov

Não há explicações para o desaparecimento do desejo, última e única lição do mais extraordinário amor. Mas quando o amor nasce protegido da erosão do corpo, apenas perfume, contorno, coreografado em redor do arco-íris dessa animada esperança a que chamamos alma – porque se esfuma? Como é que, de um dia para o outro, a tua voz deixou de me procurar, e eu deixei que a minha vida dispensasse o espelho da tua?"

  (Fazes-me falta, Inês Pedrosa)

Fotografias de: Marly Monroe e James Dean

Não há memória mais terrível do que a pele..
A cabeça pensa que esquece..
O coração sente que passou..
Mas a pele arde, invulnerável ao tempo...


 (Inês Pedrosa)

PEDAÇOS DE MIM


Todas as minhas palavras, te levam pedacinhos de
mim,
para que me possas ler....

Junta as letras,
soletra-me até me saberes de cor...
Tenho dias em que sou poema ardente,
outros, prosa estonteante
e esta noite, sou texto,
que nunca conseguirás entender...
 
(Ana Fonseca da Luz) - in Recados da Alma
Arte de: Michael Lukasiewiez