terça-feira, 11 de março de 2014

RETRATO DE UMA MULHER TRISTE


Vestiu-se para um baile que não há.
Sentou-se com suas últimas joias.
E olha para o lado, imóvel.

Está vendo os salões que se acabaram,
embala-se em valsas que não dançou,
levemente sorri para um homem. ...

O homem que não existiu.

Se alguém lhe disser que sonha,
levantará com desdém o arco das sobrancelhas,
Pois jamais se viveu com tanta plenitude.

Mas para falar de sua vida
tem de abaixar as quase infantis pestanas,
e esperar que se apaguem duas infinitas lágrimas.

[Cecília Meireles] in 'Poemas (1942-1959)

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