sexta-feira, 26 de julho de 2013

MILÉNIOS DE ESPERA... (prosa)


 Espera por mim quando as folhas do Outono estiverem amarelecidas e jazerem no caminho que desce para o rio; aquela ladeira onde um dia me apanhaste, abraçaste e beijaste pela primeira vez.
Espera-me junto à p...
edra esbranquiçada que a limpidez da água lavou e onde desenhaste o meu nome que o nosso amor perpetuou. Ela mudou de cor, ficou rosada ... e ousada.
O tempo, a pedra, as folhas e eu, amadurecemos. Para que me reconheças, enroscar-me-ei numa folha amarela e partirei em busca de te ver. Se chegares àquele sítio primeiro que eu, espera por mim. Leva contigo o flautim para recordarmos as músicas que tocavas para mim quando juntinha a ti adormecia.
Eu também levo comigo, bem enroscadinha, uma folha de alecrim, para que o seu odor perfume o ar que respiramos e para que não percamos o desejo incontido de nos vermos.
Não sei se o timoneiro que faz deslizar a Barca da Esperança; aquela que tem à proa a luzinha que alumia as águas do Rio da Boa Aventurança, não sei se ele sabe alcançar aonde eu quero parar, mas tentarei ensinar-lhe por onde remar até ao Caminho das Folhas, até ao Lago Verde dos Limos que, por sua vez, nos levava à Praia do Bom Chegar.
Se assim não for, se ele não souber até lá remar, terás de me vir buscar, porque te quero abraçar e matar a saudade de te não ver há séculos; séculos-esses-séculos, que me parecem milénios e onde se escondem as libertações dos sentires e as sensações dos amares.
Será que ainda as conheço … ou será que se evaporaram no fumo cinzento das chaminés?!
Quando nos encontrarmos, logo-logo me aperceberei pelos nossos olhos, se ainda sentimos o coração vibrar como quando os nossos cabelos não eram da cor do luar …

(Magá Figueiredo)
(ao abrigo do código do direito de autor)


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