sexta-feira, 7 de setembro de 2012

CASA

 
Tentei fugir da mancha mais escura
 que existe no teu corpo, e desisti.
 Era pior que a morte o que antevi:
 era a dor de ficar sem sepultura.
 Bebi entre os teus flancos a loucura
 de não poder viver longe de ti:
 és a sombra da casa onde nasci,
 és a noite que à noite me procura.
 Só por dentro de ti há corredores
 e em quartos interiores o cheiro a fruta
 que veste de frescura a solidão...
 Só por dentro de ti rebentam flores.
 Só por dentro de ti a noite escuta
 o que sem voz me sai do coração.
 
 
(David Mourão - Ferreira)

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