sábado, 27 de abril de 2013

MEU POEMA



Meu poema se alimenta de lua cheia,
   mas às vezes ela esvazia,
   vira minguante!
   E aí, haja ruas desertas,
   sombras que eu nem sabia que existiam,
   janelas antes entreabertas,
   com medo padecem trancadas,
   não permitem que brote a conversa
   entre a menina e o poeta,
   entre o violão e a paixão.

 
   Meu poema se alimenta de lua cheia,
   de emaranhados de fios feitiços,
   de veneno, meio-fio, arrepio,
   tessituras, bordados e teias,
   seios lambuzados de orvalho,
   coxas molhadas no cio,
   beijos, saliva, orgasmo...
   E haja isordil em meus versos!
   Poemas que se alimentam de lua cheia
   costumam maltratar o coração.   
   Meu poema se alimenta de lua cheia,
   de canto nostálgico de sereia,
   de águas revoltas que movem moinhos,
   de rosas vermelhas infestadas de espinhos,
   de cacos de vidro espetados em meu umbigo,
   de estranhos atalhos trilhados faz tempo,
   de coisas que encontro ao viajar por dentro...
   E haja inquietude nos versos que eu proponho,
   macerar palavras fazedeiras de sonhos, 
   como quem macera o trigo para fazer o pão.

 
      
(NALDOVELHO)

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