sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

AQUELE VENTO MAIS HÚMIDO




Sopravam ventos de passados que não fui,
Sobre campos áridos de céu e de outras tristezas,
nalguma coisa de alma onde se intui,
... a narração de todas as certezas.
Se fosse hoje, naquela praia deserta onde te vi,
encontraria mais dúvidas do que mar.
Todas as formas do mundo ali mesmo eu reuni
a darem sentido, ao sentido de ali estar.
E também ali nasceram todas as cores,
e todos os grãos de areia sumiram-se num nada.
Haviam vozes, lembro-me, fantasmas de outros amores,
balindo canções fora de temporada.
Trazias o vestido que te dei,
aquele, sempre solto da vontade de ser acanhado,
soalheiro e cândido nesse corpo que desejei,
nunca mais do meu afastado.
Tantos assombros reunidos num só dia,
O brilho, o intenso brilho do sol, ou do olhar,
não estou certo. Que sei eu sobre a alegria?
ou sobre os ventos rápidos que correm sobre o mar.
Talvez fosse mesmo o vento empurrando-me adiante,
e todo o frio da salitra toldasse a verdade,
aos olhos cansados de quem só sente,
pouco mais que o dilacerar da saudade.
Não! Não posso crer. Eras tu naquele dia bendito,
Era o teu corpo, e o teu olhar, e o nosso amor,
E se me disserem que aquele dia foi todo o esplendor,
Eu acredito amor, eu acredito.

Casimiro Teixeira 
Do Livro: QUE ALGUÉM SAIBA QUE ÉS UM HOMEM

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