sexta-feira, 22 de setembro de 2017

O CORPO



Digo do corpo
o corpo
e do meu corpo

digo do corpo
o sítio e os lugares

de feltro os seios
de lâminas os dentes
de seda as coxas
o dorso em seus vagares

Lazeres do corpo
os ombros
as lisuras      o colo alto
a boca retomada

no fim das pernas
a porta da ternura
dentro dos lábios
o fim da madrugada

digo do corpo
o corpo
e do teu corpo

as ancas breves
ao gosto dos abraços

os olhos fundos
e as mãos ardentes
com que me prendes
em súbitos cansaços

Vício de um corpo
o teu
com seu veneno

que bebo e sugo
até ao mais amargo

ao mais cruel grau
do esgotamento
onde em silêncio
nado em cada espasmo

Digo do corpo
o corpo
o nosso corpo

digo do corpo
o gozo
do que faço

Digo do corpo
o uso
dos meus dias

a alegria do corpo
sem disfarce


(Maria Teresa Horta)- in, "As Palavras do Corpo"

2 comentários:

  1. Qdo comecei a ler este poema, pensei logo que a autora fosse a M. Teresa Horta. O que um corpo pode ser e fazer!

    SIMPLESMENTE FANTÁSTICO E APELATIVO!

    Beijos e um abraço.

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    Respostas
    1. Tem razão, os poemas de M. Teresa Horta são inconfundíveis...

      É verdade, um corpo pode ser e fazer...!

      Beijinhos.

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