quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

A MULHER A CASA


A casa é viva
(A mulher dorme)
Dorme na espuma
nas cores puras
Dorme na espuma do silêncio
Planos brancos
e cores lisas
Dorme no vidro
tranquilo
Dorme viva
A casa é branca
É mais branca no silêncio
É mais branca entre as árvores
A própria cidade é branca
A cabra
cheirou a casa
cheirou o branco
O puro nó
do silêncio
Chego em silêncio
à mulher viva
dormindo
A casa é ela
em espiral
rodando
branca
É fino o ar
quase sem pó
uma árvore dá
uma curta sombra
Uma brisa lava
a casa fresca
A varanda nua
é seca e branca
com sede de mar
A caranda é nua
a mulher é nua
Da casa branca
vê-se o mar
o fulvo dorso
da praia
nu
mulher de areia
deitada e panda
na frescura azul
Uma vela branca
de minúcia fresca
dá ao olhar a brisa
dá ao silêncio o mar
A mulher dorme
viva
na espuma
do silêncio
 
António Ramos Rosa - in VOZ INICIAL (1960), in ANTOLOGIA POÉTICA ,
Selecção, Prefácio e Bibliografia de ANA PAULA COUTINHO MENDES (Pub. Dom Quixote, 2001)

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