quarta-feira, 13 de março de 2013

 
 
DÁDIVA
 


Quisera ofertar-te
o vôo dos pássaros,
o momento do nascimento,
...
o segundo antes do beijo,
o sonho que precede o adormecer.
Quisera entregar-te
os olhos baços,
o arrependimento,
o leite de cada seio,
o pôr-do-sol e o amanhecer.
Quisera dar-te
as quatro estações,
as cerimoniosas fases da lua,
a Vênus de Milus inteiramente nua,
a neve caindo ao alvorecer.
Quisera doar-me a ti por inteiro,
pela eternidade do instante,
colher-te os frutos,
semear-te os versos
e cantar-te o amor
[que sinto].
Quisera, apenas quisera,
acompanhar-te, em silêncio, pela vida,
calar as vozes que perturbam teu sono,
deitar-me à tua sombra
de frondoso tronco.
Quisera fazer-te brisa e flor do campo
e deixar que despertasses
com meu nome nos lábios
– única palavra em teu vernáculo –
a me sorrir,
presente.

(Lilian Maial)

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