Incontáveis são os eus que nos habitam.
Diferentes os meus dos teus,
mesmo não os podendo comparar,
porque, tal como tu, por dentro não me vejo.
Vejo-te quando te imagino ou sinto,
mas desconheço qual de mim te vê.
Não sei qual de ti me imagina e sente,
nem sei qual de mim tu vês.
Se eu chamar de alma
àquilo que em nós imagina e sente,
as almas que temos são muitas.
Tantas almas quantos os eus,
que lutam entre si continuamente
para monopolizarem o imaginar e o sentir.
Porém, quando nos tocarmos, vamos contar
quantas das nossas almas se beijam
e, só então, saberemos se é com amor
que os nossos eus se entrelaçam.
(Jaime Portela)
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