sábado, 30 de junho de 2018

O AMOR


As palavras são barcos
e eles se perdem assim, de boca em boca,
como neblina no nevoeiro.
Eles carregam suas mercadorias para conversas
sem encontrar um porto,
A noite que os pesa como uma âncora.

Eles devem- se acostumar a ficarem velhos 
e viver com paciência de madeira
usado pelas ondas,
para se decompor, para ser danificado lentamente,
até o armazém de rotina
o mar chega e mergulha-os.

Porque a vida entra em palavras
como o mar em um barco,
o tempo cobre o nome das coisas
e isso leva à raiz de um adjetivo
o céu de uma data,
a varanda de uma casa,
a luz de uma cidade refletida em um rio.

É por isso que, nevoeiro a nevoeiro,
quando o amor invade palavras,
Bata suas paredes, marque nelas
os sinais de uma história pessoal
e deixa no passado os vocabulários
sensações de frio e calor,
noites que são noite
mares que são o mar,
caminhadas solitárias com extensão de frase
e parou trens e músicas.

Se o amor, como tudo, é uma questão de palavras,
Abordar seu corpo era criar uma linguagem.

(Luis García Montero)

Sem comentários:

Enviar um comentário