quinta-feira, 22 de setembro de 2016

A VOZ A TI DEVIDA


(...) Ouves como elas pedem realidades,
elas, descabeladas, feras,
elas, as sombras que nós dois forjamos
...
neste tão grande leito de distâncias?
Cansados já de infinitude e tempo
sem medida, do anônimo, feridas
por imensa saudade de matéria,
pedem limites, dias, nomes.
Não podem
viver assim, não mais; estão à beira
do desmaiar das sombras, que é o nada.
Acode, vem comigo.
Estende as mãos, estende-lhes teu corpo.
Os dois lhe buscaremos
uma, uma data, um peito, um sol.
Que descansem em ti, sê tu sua carne.
Calmar-se-á seu grande ansiar errante,
Enquanto avidamente
as estreitamos entre os corpos nossos
onde encontrem seu pasto e seu repouso.
E dormirão enfim em nosso sono
abraçado, abraçadas. E assim logo,
ao separar-nos, ao nutrir-nos só
de sombras, em distâncias,
elas
terão lembranças já, terão passado
de carne e osso,
o tempo que viveram dentro em nós.
E seu sono afanoso
de sombras, outra vez, será o retorno
a esta rósea e mortal corporeidade
onde inventa o amor seu infinito.

[Pedro Salinas]- Tradução de: José Jeronymo Rivera

Sem comentários:

Enviar um comentário