quarta-feira, 20 de julho de 2016

O CALOR DOS DIAS


Eras mesmo a fonte de tudo, pelo menos

naquele dia a que chamámos perfeito.
...

Os dias tinham-se entranhado nos dias,

a tal ponto que a vida era só dias, dias

a seguir uns aos outros. Apenas dias.

De olhos vendados e sem bater numa única

parede, pegados a isto, ao cheiro reconhecido

só quando um dos corpos se afasta.

Sente-se a falta, eu farejo como um cão

e depois sento-me triste a um canto

com um livro na mão. Mas naquele dia

que ambos classificámos de perfeito

eu pude ver a vida ali desdobrada em duas

à minha frente. E a tua inocência poderosa

a dizer-me uma vez sem exemplo faz

de mim o que quiseres, dobra o cabo

dos trabalhos e atira-te de cabeça. 

(Helder Moura Pereira)

Photography: Dmitri- Trishin

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