quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017


Faz tempo que meu nome é Distância
e meu sobrenome é Saudade...

(Augusto Branco)

PRENDA


Dizes-me que o silêncio 
está mais próximo da paz do que os poemas
mas se como prenda

te trouxesse o silêncio 
(pois eu conheço o silêncio) 
dir-me-ias 
Isto não é o silêncio
isto é mais um poema
 
e devolver-mo-ias

(Leonard Cohen)


As recordações não povoam a nossa solidão, como se costuma 
dizer; antes pelo contrário, tornam-se mais profundas.

(Gustave Flaubert)

DIZ-ME O TEU NOME


Diz-me o teu nome – agora, que perdi
quase tudo, um nome pode ser o princípio
de alguma coisa. Escreve-o na minha mão
com os teus dedos – como as poeiras se
escrevem, irrequietas, nos caminhos e os
lobos mancham o lençol da neve com os
sinais da sua fome. Sopra-mo no ouvido,
como a levares as palavras de um livro para
dentro de outro – assim conquista o vento
o tímpano das grutas e entra o bafo do verão
na casa fria. E, antes de partires, pousa-o
nos meus lábios devagar: é um poema
açucarado que se derrete na boca e arde
como a primeira menta da infância.
Ninguém esquece um corpo que teve
nos braços um segundo – um nome sim
.

(Maria do Rosário Pedreira)
Photography: Aroslaw Datta

sábado, 14 de janeiro de 2017

UM DIA VIREI


Um dia virei
colado a um verso, embrulhado
numa folha, dobrado
a um canto,
para que os teus lábios
me ciciem, os teus olhos
me beijem
e eu não saiba
e eu não sinta.

(Albano Martins)

BORBOLETAS


Borboletas
sonâmbulas
do desejo
-as minhas
tuas mãos.

(Albano Martins)

MISTÉRIO


O mistério começa do joelho para cima.
O mistério começa do umbigo para baixo
e nunca termina.
(Affonso Romano de Sant’Anna)