sábado, 28 de abril de 2018

O CORPO NÃO ESPERA

O corpo não espera. Não. Por  nós
ou pelo amor. Este pousar de mãos,
tão reticente e que interroga a sós
a tépida secura acetinada,
a que palpita por adivinhada
em solitários movimentos vãos;
este pousar em que não estamos nós,
mas uma sede, uma memória, tudo
o que sabemos de tocar desnudo
o corpo que não espera; este pousar
que não conhece, nada vê, nem nada
ousa temer no seu temor agudo.
Tem tanta pressa o corpo! E já passou,
quando um de nós ou quando o amor chegou.

(Jorge de Sena)

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